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Há uma irreparável decepção quando um homem encontra uma sereia. Isso acontece muito raramente. Podemos, no entanto, suspeitar se um vizinho no prédio volta a casa no fim do verão, com a família e os cães, e há nos olhos de todos qualquer coisa de alguém cuja visão se desfocou. Ele deixou crescer a barba e passa as noites na varanda de trás, comprometendo o seu papel de pai e o emprego. E os filhos, os cães e a mulher perderam a memória do contrato com que antes dividiam os espaços. Andam em roda, com pequenos empurrões.
Porque houve uma viagem combinada com pescadores, até ao alto-mar. E a família ri-se, quando ele volta, pálido e sem vontade de comer. Todos conhecem as histórias do enjoo. Está ali o desastre e ninguém sabe. O pai nunca mais olha para ninguém.
(...)
Hélia Correia, Bastardia
1 comentário:
saudade
do que se perde pelo caminho.
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