"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

sábado, outubro 14, 2006

"Não se morre de desejo mas não se regressa igual"



Há uma irreparável decepção quando um homem encontra uma sereia. Isso acontece muito raramente. Podemos, no entanto, suspeitar se um vizinho no prédio volta a casa no fim do verão, com a família e os cães, e há nos olhos de todos qualquer coisa de alguém cuja visão se desfocou. Ele deixou crescer a barba e passa as noites na varanda de trás, comprometendo o seu papel de pai e o emprego. E os filhos, os cães e a mulher perderam a memória do contrato com que antes dividiam os espaços. Andam em roda, com pequenos empurrões.
Porque houve uma viagem combinada com pescadores, até ao alto-mar. E a família ri-se, quando ele volta, pálido e sem vontade de comer. Todos conhecem as histórias do enjoo. Está ali o desastre e ninguém sabe. O pai nunca mais olha para ninguém.

(...)

Hélia Correia, Bastardia

1 comentário:

sss disse...

saudade
do que se perde pelo caminho.

Ontem foi:

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a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

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