"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

sexta-feira, junho 27, 2008

rouge est la couleur du sang



Se há lugares imperdíveis, se há universos absorventes, se há poéticas que nos agarram e reviram...eu sei que os encontrarei aqui, a partir de sábado, 28 de junho.

Ilustrações/pinturas de Raquel Costa na maria vai com as outras.


«(...)procura-se uma espécie de poética do corpo que traduza, ainda que implicitamente, considerações sobre o amor, o medo, e a morte. São resgatados os símbolos usuais — o coração, a cabeça, as vísceras — e depois exploradas as metáforas habituais com uma intenção de desconcerto: se o próprio corpo falha e adoece e dói, para que lhe serve ainda a invenção do amor?»

quinta-feira, junho 26, 2008

Let´s pretend it's not my heart*




Ao ler o Ipsilon de sexta-feira passada (ando com as leituras em atraso, claro!) não pude deixar de estacionar longamente no artigo sobre os magnetic fields e as suas 69 canções de amor. Vários motivos para me deter nele. Porque me surpreendeu conhecer uma das pessoas que contribui com o seu testemunho para o mesmo (aliás, conheço duas mas isso agora não interessa nada). Porque os magnetic fields foram das primeiras bandas alternativas a entrarem-me pelos ouvidos (e por outros sentidos também para não ser tão reducionista). Porque foi inesquecível aquele outro concerto na Aula Magna...em primeira fila. Porque o alinhamento dessa noite nas cadeiras é impossível que se repita. Porque 69 love songs é a desconstrução do amor e na altura em que as ouvia repetidamente estava longe de saber o que isso era (ou de ter a pretensão de saber). Porque hoje apeteceu-me pegar no triplo cd ligeiramente perdido na prateleira e resgatá-lo para a minha noite. E concluo que continuo a gostar muito dele. Porque hoje não estou na Aula Magna. Porque não quereria estar hoje na Aula Magna. Porque, nem sei bem porquê, mas...
E porque as ligações químicas resultam de desequilíbrios ocorridos nos campos magnéticos - leio -, explicação que acho demasiado apropriada para toda a distorsão que encontro em mim e à minha volta.
Porque é preciso chamar-se Stephen Merrit para se escrever e cantar coisas como I think I need a new heart, I'm sorry I love you* ou A chicken with its head cut off.
Porque. Porque.
Porque a verdade é que hoje eu queria estar num sítio apenas. Esse mesmo. Esse mesmo onde não quero estar.

(...)
We don't have to be stars exploding in the night
Or electric eels under the covers
We don't have to be
Anything quite so unreal
Lets just be lovers

(...)

Magnetic Fields, A chicken with its head cut off

quarta-feira, junho 25, 2008

arte urbana


ana c., r.miguel bombarda, porto


quando as paredes se transformam em poemas quase que as cidades podiam ser lugares a habitar sem qualquer desejo repentino de fuga.

curta do dia

- Não se pode fumar ganza aqui?
- Aqui não se pode fumar.

segunda-feira, junho 23, 2008

Em vez de martelo na mão, logo à noite vou andar munida de lenços de papel...E em vez de finos ou outro incentivo à DIGESTÃO da sardinha na brasa com broa e pimento assado, vou recorrer ao chá com mel. E garanto-vos que nem vou precisar de alho-porro próximo do nariz para espirrar...

Ao que parece será um bom S.João.

domingo, junho 22, 2008

"liga para ouvires o mar"

Chamei-te Príncipe mas querias ser Deus.Hermes, Neptuno, Amon-Rá.
Desta vez, não te pedi a lua. Não te pedi o sol. Nada. A tua voz transmediterrânea puxava-me para escutar o mar.

Sabes?, ainda me custa acreditar que o telefone permita essas sensações tão próprias da pele.

quinta-feira, junho 19, 2008


ana c.

as pessoas partem.levam com elas o que de nós lhes pesa. e deixam-nos a crença de que há saudade na distância. porém, as crenças têm pés de barro. e é muito fácil tropeçar-se quando se caminha sobre entulho.

quarta-feira, junho 18, 2008


ana c.



*isobel campbell&mark lanegan,Ballad of the Broken Seas

terça-feira, junho 17, 2008

Documentira



A Profedições e o Instituto de Sociologia da FLUP, Regina Guimarães e Saguenail gostariam que estivesse presente na sessão de lançamento do livro DOCUMENTIRA que terá lugar no MARIA VAI COM AS OUTRAS, rua do Almada, nº 443 Porto, na quinta-feira 19 de Junho às 21h30.

Tomaremos um café ou um copo, falaremos da publicação e faremos uma derradeira sessão-surpresa do seminário sobre princípios e práticas do documentarismo A CONSTRUÇÃO DO REAL cuja transcrição acrescida de entrevistas a alguns realizadores convidados deu origem ao livro agora editado.

Echo & The Bunnymen - The Killing Moon

Porque a lua está mesmo de matar...



Under blue moon I saw you
So soon you'll take me
Up in your arms
Too late to beg you or cancel it
Though I know it must be the killing time
Unwillingly mine


Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him


In starlit nights I saw you
So cruelly you kissed me
Your lips a magic world
Your sky all hung with jewels
The killing moon
Will come too soon


Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him


Under blue moon I saw you
So soon you'll take me
Up in your arms
Too late to beg you or cancel it
Though I know it must be the killing time
Unwillingly mine


Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him


Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him
You give yourself to him


La la la la la...


Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him


La la la la la...


Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him


Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him


La la la la la...

segunda-feira, junho 16, 2008

Acabaram de me dizer em tom de provocação: "Também quero fazer um doutoramento. Já mereço ficar três anos de folga."

Oxalá consigas fazer do doutoramento uma folga prolongada. Embora eu desconfie que consegues ficar três anos, ou mais, de folga, sem recorrer a semelhante pretexto. Vá lá, tu és bem mais esperto do que eu alguma vez conseguirei ser...
Hoje apercebi-me de que os portuenses não sabem o que é "música de martelinhos". E não, não tem propriamente a ver com o S.João!

secret heart*


ana c.

Coisas sobre as quais ainda não escrevi nem vou escrever acumulam-se nas páginas brancas dos caderninhos que transporto no bolso, na mala, na mochila, na mão. É aí que guardo as sensações das viagens que vou permitindo ao corpo. Das paisagens que me entram pelos olhos mesmo quando durmo. Dos concertos a que não assisto ao teu lado. Dos livros que começo como desculpa para respirar longe da minha própria história. E acabo tão perto. A primeira vez este ano que pisei o mar e bebi goladas de areia pelas arestas dos pés. O nevoeiro a descer sobre as dunas onde em vez de casas deixaram crescer moinhos. O carro estacionado rente à estrada como a mão estaciona delicadamente rente aos cabelos do vento. Choveu no verão e o limpa-pára-brisas adormecido numa madrugada de domingo.
Quase te vejo chegar. Enquanto aprendo o riso e a fala e a importância dos dedos. Não é mentira que há palavras que se esquecem. Mas é mentira que jamais as voltaremos a lembrar um dia. Mais tarde.



*secret heart, Feist
(A propósito de Feist, a aula magna encheu-se. Bateu palmas em demasia. Não foi mágico. Mas teve momentos de grande magia.)

quinta-feira, junho 12, 2008

13 isolations



"To make people free is the aim of art, therefore art for me is the science of freedom."

Joseph Beuys


"13 isolations" é uma experiência que merece ser observada, reflectida, divulgada. Diria que parte de um princípio filantropo, muito embora possa ser questionável a forma como se pretende reivindicar atenção sobre causas tão nobres quanto os direitos humanos.

A ideia é fechar 13 artistas numa prisão, na Holanda, durante 29 dias, levando-os a produzirem arte sob condições que se pretendem precisamente combater no espaço-mundo: repressão, aprisionamento e isolamento. Segundo regras rígidas, os artistas serão o reflexo e o próprio instrumento de reflexão sobre questões como o racismo, trabalho infantil, genocídio, crimes ambientais, fome, abuso de poder, etc.etc.

Está tudo explicado no site: 13isolations, a partir do qual, aliás, durante 29 dias em Agosto, se poderá acompanhar o trabalho dos artistas através de vídeo.

Seria sempre uma experiência interessante para acompanhar, inclusive do ponto de vista sociológico. Mas, para além disso, há uma motivação acrescida. Portugal estará representado entre os 13 artistas através de uma jovem pintora (e não só) bastante empreendedora e corajosa, com muito mérito e talento artístico. Se isto parece um elogio barato, desculpa, mereces muito melhor, Priscila.
E até ires embora, já sabes, haverá sempre muita curiosidade e vontade de fazer piadas sobre a tua reclusão...

Good Luck!





The 13 artists will be locked in solitary confinement for 29 days in August 2008. As living metaphors, they will represent the social ills that separate so many in our world, embodying the millions imprisoned by the walls of injustice, prejudice, poverty and politics. The sacrifice of their freedom of movement made by these 13 international artists points to the unwilling and tragic sacrifices made by people every day who are isolated by the ravages of the earth's climate, racial and sexual discrimination, child labor, wrongful imprisonment for dissident opinions, tribalism and war. As they create artwork that reflects the nuances of their aloneness, the artists will be broadcast live eight hours each day via Internet and will become part of the personal experience of millions of viewers world-wide.

(...)

The location for this historical art event is the Oostereiland Prison in Hoorn, Netherlands.




Os 13 artistas:

Kim Tuin Sculptor Holland
Isabella Mara Painter Italy
Sanyu Nagenda Performance artist USA (Uganda-Belize)
Kirsten Leenaars Conceptual artist Holland
Fred Martin Sculptor France
Priscilla Fernandes Painter Portugal
Raymond Watson Painter Ireland
Pippi Kid Performance artist Italy
Katya Grokhovsky Sculptor Ukraine
Moses Foster Painter USA
Lekan Oguntunde Painter Africa (Nigeria)
Noriko Yamaguchi Sculptor Japan
Steven Gerlich Photographer USA

terça-feira, junho 10, 2008

até nos dias quentes pode trovejar e chover. o que é de se guardar, guarda-se. e fica. como o cheiro a terra molhada.

começa-se aí. onde se fica. onde nos deixamos ficar. aí.

quinta-feira, junho 05, 2008




"as primeiras imagens que tenho são de relva seca a cheirar a caril, de abelhas a sobrevoar a água quente da piscina lá do clube, dos adultos andarem sempre lá ao longe, mas ao alcance de uma subida rápida para o colo, quando sentia vontade de um abraço.(...)"

Ana Pereira

"Sometimes you know more is less"

Feist. Aula Magna. Lisboa. 11 de Junho.
Não se podia escolher melhor para ponto de encontro...
Até já.

stay (far away, so close)*


ana c., 2005

hoje acordei com os pés a norte e todo o resto do corpo a erguer-se a sul. ando há largos meses a beber da mesma saudade engarrafada. gole a gole, o copo não se esvazia. transborda. sim, o alentejo é um copo a transbordar de planície e não há corpo que já lhe resista. ressaco. passo as noites a suar o verão escaldante de agosto. uma injecção de melancolia dourada com salpicos de papoilas e girassóis e chilrear de aves e salvar-me-ia.assim padeço de uma doença crónica. adio o encontro que me trará o antídoto. adio o encontro como se adiasse a resposta a uma carta abandonada sobre o entulho da secretária.


ana c., 2005


as saudades são desculpas para atrasar o tempo. essa espera de braços apoiados no parapeito da janela e olhos postos no caminho contrário ao início da planície.antes da curva havemos de olhar para trás.
quero regressar-te no pino do verão, com as ruas a escaldarem as faces e os cabelos amarelecidos de sol como as searas. quero surpreender a casa de porta aberta e desfazer o silêncio das paredes, do corredor longo até à sala, dos quartos.
sei que vais dar-me um beijo ainda que a tua barba me arranhe a pele macia do rosto. sei disso. e sei que haverá qualquer coisa ao lume. e muita luz. muita luz dessas traseiras onde crescem laranjas e rosas. e esqueço-me de mais o quê.


ana c., 2005


será que ainda há pudins de morango e de chocolate, arroz doce ou fatias douradas no armário? uma ou duas gavetas abaixo, o baralho de cartas espanhol, já tão gasto de ensinares os netos. ainda consegues contá-los? se não tivesses partido também eu não lhes teria perdido o rasto. nem a casa acabaria fechada, trancada e sem luz.
chama-me do cimo das escadas.chama-me se adormecer na cama abandonada na cave. já deverei ter o corpo dorido do colchão mole. chama-me. deve ser hora do lanche.

tu que ainda falas, que sempre nos escreveste cartas. nós tão longe daí. quantos somos?

apesar deste exílio a norte, conta comigo.



ana c., 2005

*craig armstrong feat. Bono,U2

quarta-feira, junho 04, 2008

O amor dá-me tesão

Manel Cruz. Ornatos Violeta. Pluto. Supernada. Manel Cruz.Foge Foge Bandido.

O que sobressai dos projectos de Manel Cruz, para além da força da música, são as letras. A poética que ele incute de forma tão própria, até mesmo no modo como entrega a voz às canções.
Este trabalho, em edição especial, inclui dois discos (lado a - O amor dá-me tesão -e lado b - Não fui eu que estraguei) e um livro (lado c) e é o resultado de anos de trabalho, experimentação, parcerias espontâneas...fugas e banditismo.

Ainda não comprei (nem sei se, nem quando). Mas já ouvi uma faixa (tem 80!) - Foi no teu amor.

No Porto, não hão-de faltar oportunidades para me cruzar com um palco qualquer onde o Bandido ensaie a sua fuga. Estou ansiosa.



Eu quase amei a forma como tu mentias
limpando os pés ao meu sorriso
É claro que achas que eu não presto
É claro que achas que eu não sirvo

Foi no teu amor que algo se perdeu
Foi no teu amor, não no meu

Eu quase amei a forma como tu me vias
logo eu amo outra pessoa
Eu não me importa se eu não presto
Eu tenho planos para lá de mim

E tu és só o que eu te empresto

Foi no teu amor que algo se perdeu
Foi no teu amor não no meu


Manel Cruz, Foi no teu amor

terça-feira, junho 03, 2008

The Last Shadow Puppets
"The Age Of The Understatement"



Este disco do duo constituído por Alex Turner e Miles Kane, dizem os críticos estar sob influência directa de deuses como Scott Walker e David Bowie.

Eu, desde que ouvi The age of the Understatement, primeiro single, estou rendida. Talvez me ande a tornar demasiado fácil...

lonely drifter karen
Grass is singing




Trio liderado pela cantora e compositora austríaca Tanja Frinton, conta com a participação do pianista espanhol Marc Meliá e do percussionista italiano Giorgio Menossi. Esta banda, radicada em Barcelona, inspirou-se para o nome num dos personagens do filme “Os Idiotas” de Lars Von Trier.

Canções que apetecem ser ouvidas de pés descalços na areia da praia.

segunda-feira, junho 02, 2008

check out the maker of your heart today(1)

post com alguns, muitos, dias de atraso.


ana c.

Voltar ao mercado negro. Receber uma certa dose de "Soro" de Joana Linda. Ter encontros nos corredores sem marcação prévia. E ver Scout Niblett em primeira fila, sem direito a almofada mas com vista privilegiada para detalhes: a cor das meias, o formato dos sapatos, o tamanho dos pés...os dedos nas cordas da guitarra...
Uma noite.


Uma canção. Tropeça-se.E cai-se. Numa canção. Nódoa negra. Ferida. Sorriso.

"Take care on corners"(1).



ana c.


"Love (...) it doesn't die/ it just goes on".


ana c.



Há canções que se esquecem. Como não esquecer alguém se há canções que se esquecem?



"Love yourself sweetly"(1).


1Scout Niblett

Ontem foi:

About me:

A minha foto
a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

Sopra-me ao ouvido: