"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

terça-feira, julho 31, 2007

Planos para as férias

passar longas tardes de filmes e livros no sofá
organizar as pastas de fotografias e voltar a tirar mais fotografias para voltar a desorganizar tudo outra vez
deixar o mar sussurrar-me tardes ao ouvido
deitar fora a chave de algumas gavetas depois de as limpar
passar férias com os gatos
atravessar o tejo de cacilheiro ao por do sol
ter tempo para saber dos amigos, para estar com os amigos, para lhes sentir o olhar
estar com os pais sem pensar nos horários dos combóios ou expressos
entrar no fogo dessas ruas e pensar que é agosto e que há coisas que não mudam,porque não podem, porque não querem
ter um dia para viajar sem rumo, de janelas abertas, música alta e azul no retrovisor
escrever cartas e postais, encher páginas do caderno de viagens, coleccionar papéis e papelinhos com nomes gravados, recados perdidos

entrar no mar, sentir o sal das águas nos olhos e pensar que tudo o que arde cura

5 minutos #5

A minha gata a fazer-me caracóis nos cabelos.

segunda-feira, julho 30, 2007


miranda lehman


no dilúvio salva-se a palavra.

sábado, julho 28, 2007

Piana, Something's Lost

Fiquei apaixonada pela música desta japonesa quando a descobri através do vidro azul. Deixo o vídeo para o olhar se entreter durante o fim-de-semana.

Há duas noites seguidas que sou abordada pela mesma pessoa, na mesma zona da cidade, encontro absolutamente casual, eu a subir, ela a descer...E a mesma pergunta: achas que eu tenho uns pés bonitos?

Todos temos as nossas paranóias e quem nos as ature com, maior ou menor, frequência. Só me pergunto por que é que os loucos desta cidade insistem em cruzar-se comigo!!

quinta-feira, julho 26, 2007

5 minutos #4

Os 5 minutos que não tive para pendurar o meu olhar na linha do horizonte.

quarta-feira, julho 25, 2007

Massive Attack

teardrop



protection




duas das minhas preferidas canções. uma das minhas bandas preferidas. dois magníficos vídeos.


love is a verb
Love is a doing word

teardrop, feat. liz fraser


I can't change the way you feel

But I can put my arms around you

protection,feat.tracy thorn

terça-feira, julho 24, 2007

5 minutos#3

ler mãos. descrever-lhes os limites. a profundidade dos traços. o relevo das veias. a lonjura dos dedos. o toque. as marcas do dia. 5 minutos. e levanta-se um sopro de vento. ou a chama com que me queimo. porque em vez de água, terra. porque já não me basta o meu reflexo.


mas hoje as tuas mãos parecem-se comigo.

m.cesariny

segunda-feira, julho 23, 2007

don't walk away in silence

Descobri num caderno de anotações bibliográficas um pedaço de folha com um pequeno excerto de um texto qualquer, escrito pela minha mão mas assinado pelo senhor dr. Richard A. Kalish. Não há-de ter sido por acaso que eu hoje me deparei com estas palavras.


Anything that you have, you can lose, anything you are attached to, you can be separated from, anything you love can be taken away from you. Yet, if you really have nothing to lose, you have nothing.

in death, grief and caring relationships, Brooks Cole, 1985


Banda sonora: Joy Division, Atmosphere

domingo, julho 22, 2007

5 minutos #2: os loucos de domingo

a minha atrapalhação em gerir uma conversa interminável e esquizofrénica com alguém que num curto período se apresentou como jornalista, contra-alto e artista; me perguntou por vinis, vestidos pretos, notícias; disse que o pai era um chato e que não lhe dava dinheiro, que tinha que fazer queixa à mãe; e carregava debaixo do braço jornais velhos, publicidade, flyers, catálogos...lixo!prometeu voltar e eu espero não estar no mesmo sítio, ou, então, desenvolver esquizofrenia semelhante enquanto lhe pago um café. caso ela ainda não tenha feito queixa à mãe...

©ana

Descalços, os teus pés
calçam as minhas mãos.

Albano Martins

sábado, julho 21, 2007

5 minutos #1

A propósito deste post decidi criar uma secção dedicada à partilha dos 5 minutos mais marcantes dos meus dias. Cá vai o primeiro:

A marginal desde a foz até à ribeira, com a ponte D.Luis ao fundo, Gaia na outra margem, o sol nas costas, tal como o vento, e a bicicleta a fazer correr o corpo tarde adentro. É o momento irrepetível do dia que vou querer repetir. Coube lá dentro a paisagem de uma janela que já foi casa minha.

©ana

tarde a espreguiçar-se na relva. a lamber o azul.

sexta-feira, julho 20, 2007

doente crónico em asfixia cerebral por termoventilação

doente: dor aguda no peito.
médico: falta de exercício.
doente: falta de tempo.
médico: para si, o que significam cinco minutos na vida?

(o divã alargou-se. o corpo enterrado, cada vez mais fundo. os pensamentos sem nexo.uma chávena de chá a arrefecer na mesa? uma canção ouvida no trânsito? o cigarro a queimar no cinzeiro? os gatos aninhados no colo? um telefonema? o livro antes de adormecer? pensar-te? decidir o que jantar? onde? com quem? a falta que me fazes? a mentira revisitada? um sonho?)

médico: quando souber a resposta considere-se curado.

(o semáforo vermelho? a tentação do risco? os últimos cinco minutos contigo.)

doente: os últimos cinco minutos com ela.

cinco minutos depois...

médico: cinco minutos sem respirar e ficará curado.

quinta-feira, julho 19, 2007

4as em Lisboa#10


©ana, Gulbenkian

4as em Lisboa: página solta de diário

ontem voltei a sentar-me em frente ao lago
a relva estava seca
o sol queimava
não descalcei os sapatos
mas tirei a camisola
ia jurar que a tua mão passou muito perto dali
de um fio de cabelo
de uma alça descaída
de um pedaço de tecido das calças
mas não
pura ilusão óptica
provocada pelo sol
pelos reflexos no lago
pelos pares de namorados à minha volta
até pelo chilrear das crianças ao fundo

sem dúvida:

a cidade é tão bonita lá fora

Amarelo e preto

Bom, muito bom regresso! E olha o que eu tinha guardado para ti.Fica ali na Mouzinho da Silveira, quase, quase a chegar ao ponto em que se decide onde estacionar o carro quando se vai para o Mercedes.

Já sugeri ao Sr. Tavares a mudança de toldo: letras pretas em fundo amarelo.


©ana
A A1 não é uma auto-estrada há muito tempo. Mas cada vez mais me parece uma manta de retalhos, muito mal alinhavada, com alfinetes esquecidos ao longo do pano...Não sabemos quando, mas eles hão-de chegar-nos à pele um dia.

quarta-feira, julho 18, 2007

As minhas séries de TV

As minhas preferidas. As que me provocaram risos e choros. Aquelas de que tenho saudades no meu sofá.


Praia da China



Trintões



Ally Mcbeal



O Sexo e a Cidade



Os normais

terça-feira, julho 17, 2007

would you have me dancing out of nowhere...*


Bill Brandt


eu explico:
a tarde regressa
é julho outra vez
e da janela já não se vê o mar
debruço-me sobre telhados
e os risos das gaivotas
dia e noite
escrevem com lentidão o norte e o sul

nesta tarde fazes-me falta
porque remexi em gavetas antigas
e descobri-te por entre a cor antiga dos retratos

eu explico:
é julho,
não há fogo a levantar-se dos livros
nem mar
a escorregar pela pele
talvez um peixe escondido por baixo dos cabelos

talvez esteja a precisar de mudar alguma coisa
a mobília de quarto
a cama
a cor das paredes

é que faz-se tarde
e mais tarde ainda
de cada vez que penso
que serias só tu



*Banda Sonora: roxy music, avalon.

give me a reason to be...a woman*


©ana

gosto de ti na minha pele. no meu colo. chama-me para te adormecer.


*portishead: banda sonora.

segunda-feira, julho 16, 2007

a propósito de fantasmas, nevoeiro, janelas e tudo o resto

Tu já me arrumaste no armário dos restos
eu já te guardei na gaveta dos corpos perdidos
e das nossas memórias começámos a varrer
as pequenas gotas de felicidade
que já fomos.
Mas no tempo subjectivo,
tu és ainda o meu relógio de vento,
a minha máquina aceleradora de sangue,
e por quanto tempo ainda
as minhas mãos serão para ti
o nocturno passeio do gato no telhado?

Isabel Meyrelles



David Lubbers
Stairs and Branch,
San Cristobal




É perigoso debruçar-se
na janela dos fantasmas!
Podes encontrar o lobisomem
ou Erzsébet a sangrenta
podes também encontrar-me
e o meu sumptuoso cortejo de carícias
ou posso eu encontrar-te
(serás então de âmbar e nevoeiro).
Qual de nós
saberá então
reconhecer os fantasmas?


Isabel Meyrelles

domingo, julho 15, 2007

às vezes, ainda me é tão fácil enterrar os dedos na areia que te trouxe da pele.


MIRANDA LEHMAN,2004,Missing

sexta-feira, julho 13, 2007


Manuel Alvarez Bravo


uma lasca debaixo da pele e a tarde morre-me por dentro

quinta-feira, julho 12, 2007

A dada altura, enquanto ouvia rádio em modo zapping, uma locutora apresentava o resultado de um inquérito aos seus ouvintes com base na pergunta: hoje ainda se morre de amor?

A maior parte das respostas foi negativa.


Elina Brotherus

Eu acho que ainda se morre e, pior do que isso, mata-se...por amor.

Amor de Perdição


©ana

É bom constatar que a Teresa e o Simão continuam apaixonados um pelo outro (apesar do ar de astronauta dela!). Claro que o Simão não tem entendido as ausências frequentes da Teresa nos últimos tempos. Fica carente. Acordo com o miar lamuriento dele. Anda atrás de mim para todo o lado. Enleia-se-me nas pernas em cada passo.
Hoje, quando o deixei a dormir no sofá, senti que lhe faltava algum conforto. Outro pêlo. Outra respiração.
Quando regressar, já sei que me vai esperar com um olhar triste à porta.

Pergunto-me se lhes terei atribuído, juntamente com o nome, um destino trágico.

quarta-feira, julho 11, 2007

O que eu queria mesmo era o "Pó de arroz" mas não encontrei.Esta também serve para um...
Karaoke?

terça-feira, julho 10, 2007

Tu existes

O teu lugar é
onde os olhos te olham.
Tu nasces
onde os olhos se encontram.

Suspensa por um chamar,
sempre a mesma voz,
parece haver só uma
com que todos chamam.

Caías,
mas não cais.
Olhos te prendem.

Tu existes
porque olhos te querem,
olham-te e dizem
que tu existes.


Hilde Domin, estende a mão ao milagre

segunda-feira, julho 09, 2007

Das Palavras Nocturnas


©ana

Encontros que não marcaste
em ruas que desconheces
eu esperarei
até que as noites deslizem
sobre mim
e eu fique transformada
em árvore.

Isabel Meyrelles, Poesia

(uma boa descoberta)

domingo, julho 08, 2007

Julho e um aquário para gatos voadores

Distraída, preocupada com outras coisas mais importantes, só hoje mudei o calendário da cozinha para o mês de Julho. Escondido atrás da porta, sempre aberta, passa completamente despercebido. É vulgar. Não tem um design interessante. Não me lembro sequer por que fiquei com ele. Mas acho que é melhor - agora, assim já a meio do ano - dar-lhe alguma utilidade. Por exemplo, assinalar-lhe os meus dias de folga, os dias de pagamento da luz, da água, da net, do telemóvel... os deadlines dos trabalhos académicos, as consultas - minhas e dos gatos. E usar várias cores, assinalando a negro os dias fatídicos: o pneu furado, a gata a voar pela janela, as multas de estacionamento, a subida do euribor...e outras coisas com as quais não me apetece agora fazer humor mas, que, mais cedo ou mais tarde, acabam sempre por dar vontade de rir.


©ana

Mas isto tudo (a foto foi só para vos deixar respirar porque o texto é longo) para dizer que o mês de Julho, no tal calendário de cozinha algo desinteressante, surpreendeu-me com a definição da palavra estereotipo, numa altura em que toda a gente anda preocupada com a igualdade e o seu orgulho gay, lésbico, hetero, branco, preto...

stereotype (noun)
etymology: French stéréotype
from stéré- stere+type

a standardized mental picture that is held in common by members of a group and that represents an over simplified opinion, prejudiced attitude or uncritical judgment.

Sociologicamente é uma definição limitada mas...é suposto aprender-se alguma coisa com o mês de Julho.
Fiquei curiosa acerca de Agosto. Vou fazer batota e espreitar. Hum...
Terei de esperar por Setembro.



©ana

E agora tenho que ir castigar o gato que destruiu a engenhoca que permitia à gata comer. Depois de cair do quarto andar, anda de funil na cabeça, para não lamber os pontos que tem na barriga, e tem os maxilares desencontrados. Toda a gente, sobretudo quem tem gatos, diz que foi milagre, que tive muita sorte (inclusive, com a conta do veterinário que não atingiu as estimativas mais elevadas - mas também não percebi onde é que estavam as mais baixas!) e a querer fazer experiências com os próprios gatos para estudar o seu nível de resistência! Eu cá desconfio que se me voltar a distrair a Teresa vai atirar-se novamente para ver se se consegue livrar do funil e voltar a encaixar os maxilares um no outro, já que o médico disse que era um problema fácil de solucionar. Bom, mas talvez ela se lembre de que voar por voar, sempre tem o céu da boca, e agora, uma vez fracturado, a vertigem será maior...



©ana

Já não vou castigar o gato Simão. Ele sabe como é fácil convencer-me...
No meio disto tudo, tenho pena de não ter fotografado o calendário. E de ter esquecido o velho sonho de ver crescer peixinhos num aquário.

sábado, julho 07, 2007

Daniel Faria viveu com demasiada pressa para morrer. "O livro do Joaquim", o último livro que a Quasi editou com poesias suas, tem funcionado como uma espécie de manual de autoreflexão. Porque existem espécies de seres como ele, acredito que há realmente algo de transcendental a esta existência mundana.

Creio que o mais egoísta dos homens é
aquele que recusa dar aos outros a sua fragi-
lidade e as suas limitações. Quem recusa aos
outros a sua pequenez, comete um dos mais
infelizes gestos de prepotência. E porque aí
se rejeita, aos outros não poderá dar senão o
sofrimento da perda. Querendo-se sem falha,
será o mais incompleto dos seres.

Agosto de 1993




miranda lehman,missing,
Portland, Oregon
May 2007

sexta-feira, julho 06, 2007

perdoa-me a estúpida mania de abrir as janelas

hoje voltaste-me aos braços com a fragilidade
de quem se engana no vôo.

empresta-me o teu anjo da guarda.




ana

a roupa da vizinha e o sistema de refrigeração do café do rés-do-chão devem ter-te amparado a queda. e o meu sorriso precisa de mais do que um template e nick novos para se recuperar. já percebi que não vale a pena fugir dos dias-não.

quinta-feira, julho 05, 2007



Se encontrarem um cd da Marlene Dietrich, abandonado, por aí, original, com dois riscos na capa... não se sintam sortudos(as). Devolvam-mo, por favor. Como recompensa, ofereço uma cópia do mesmo .

4as em Lisboa #9


tomar chá no Royale e descer com glória, (quase) sem escorregar, a calçada.

seguir pelo azul e ir espreitar as flores da mãe na varanda.

reencontrar amigos de infância.
regressar pelo sol.

quarta-feira, julho 04, 2007

nineto five

Enche a tarde de outros corpos.
Em casa já sabes que corpo
te espera.

Pedro Mexia, nineto five in Senhor Fantasma

terça-feira, julho 03, 2007

nem eu consigo conter o riso: alguém acedeu a este blogue pesquisando por "como tirar caruncho de roupa escura."

!!!!!
Ia eu a subir a rua à pressa, para ir à Fnac no intervalo de umas camisas por passar a ferro, quando oiço alguém dizer-me: "Para a semana os Metallica vêm, completamente de graça, à Avenida dos Aliados. Era bom não era?"Fiz o meu sorriso cínico e prossegui a marcha. Eu nem sequer gosto de Heavy Metal. Nem sei o que é feito dos Metallica desde o The unforgiven, tão presente na minha adolescência.

Só me ocorre aquele flyer da Bor_land, publicidade a um disco da editora. Mas eu diria antes:
Most people have been trained to be a bore

segunda-feira, julho 02, 2007

It can be done - call Keppler


Victor Keppler,Housewife in Kitchen, 1940


Victor Keppler, Wanted! For Murder, 1944 (poster da II Guerra Mundial)

domingo, julho 01, 2007

Assobiar no Sábado à noite, à chuva

Peter Bjorn&John: Young Folks

Ontem foi:

About me:

A minha foto
a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

Sopra-me ao ouvido: