"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

quinta-feira, novembro 19, 2009


Lilya Corneli



todos os dias há sempre algo despropositado
até a manhã quando a chuva escorre
ininterruptamente nos vidros e as folhas das árvores parecem cabelos
molhados no embalo do vento

é despropositada a voz
a música
os olhos caídos
a fuga das mãos para o abrigo dos bolsos

é despropositado
o vazio dos cinzeiros
quando os pulmões se recusam já ao fumo
o lugar ocupado à mesa por alguém que se atrasará
o relógio parado à cabeceira dos mortos

é despropositado
o gesto de abandonar a chávena na mesa do café de rua
a voz
a música
os olhos caídos
a fuga das mãos para o abrigo dos bolsos

o inverno a sobrepor-se, em cada manhã,
à lenta cadência dos beijos

é despropositado
o tremer do corpo na tua ausência

domingo, novembro 15, 2009

Another night in*

A chuva a escorrer pelos cabelos e *Tindersticks pelo canto do olho.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Reduzi o mar
A um búzio no teu ombro -
Não olhes para trás.


José Pedro F. Leite, outros litorais
(10 Novembro, 22h, Era uma vez...no Porto: apresentação do novo livro "As mãos e o lume")

quinta-feira, novembro 05, 2009

os silêncios a despertarem guerras

guerras

o silêncio


Kumi Oguro


o corpo abandonado à erosão das paredes

terça-feira, novembro 03, 2009

para ti.


"Na cidade não se falava de amor
mas eu amava
e resistia à cidade
porque falava de amor"

Filipa Leal

E é assim que começo por te dizer.


os amigos amam-se. como se amam as tardes
longas de outono
e as folhas secas a estalarem no chão.
amam-se como se amam as primeiras chuvas
que os gatos lambem das janelas.
amam-se em segredo, baixinho, em voz alta.
como se amam as aves que abandonam as manhãs no
parapeito das casas e tecem histórias de viagens
de lés-a-lés.

digo-te isto porque sim. porque é triste nas tardes longas de outono
falar-se sozinho.

quando se amam os amigos
eles vêm salvar-nos com chá e bolachas
e o tempo passa a falar-se de coisas tão banais e simples
como o baloiçar lento das árvores
ou o assobio das borboletas pelos quintais.

quando se ama, não é preciso falar-se do amor.
o amor existe. está lá. é silêncio. um pedaço de mar.
uma concha. um fio de luz.

por isso, e só mesmo por isso,
isto é como se não te tivesse dito absolutamente nada.


















Ana C.

Ontem foi:

About me:

A minha foto
a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

Sopra-me ao ouvido: