A poesia de Francisco José Viegas tem sido meu companheiro de almofada nas últimas noites. À luz ténue das minhas madrugadas insólitas, rondam-me os versos de geografias e paisagens dedilhadas entre o medo do inverno e outra substância qualquer que o coração invoca. Um grito, um lamento, um desejo, um sorriso... Depois de tudo, há o silêncio a marcar a página onde os olhos pararam de sono. E pressente-se o dia, daí a quase nada.
O contrário
é um jogo sem consequências: trocas a ordem
das coisas: o amor fere, a verdade ignora
o corpo do mundo, a companhia só se breve.
com isso se é feliz, se aprende.
©ANA
Sombras
1.
a ti recordo a todas as horas do tempo,
e isso é a alegria única, a que não morre nem aguarda,
e por ela escondo as luzes da cidade, e entendo que existe
um movimento permanente sob o céu,
reconheço o nome das espécies, invento aquilo que há-de vir,
aquilo que te ofereço, o que se encontra nu sobre a noite,
inclino-me sobre os teus passos a todas as horas do tempo,
confio nos calendários que se aproximam,
espalho faróis sobre os mapas.
se me afasto de ti, deixo-te o coração,
levo o teu em troca.
Francisco José Viegas, O medo do inverno seguido de poemas irlandeses
"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro
sexta-feira, dezembro 14, 2007
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