"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

quinta-feira, novembro 19, 2009


Lilya Corneli



todos os dias há sempre algo despropositado
até a manhã quando a chuva escorre
ininterruptamente nos vidros e as folhas das árvores parecem cabelos
molhados no embalo do vento

é despropositada a voz
a música
os olhos caídos
a fuga das mãos para o abrigo dos bolsos

é despropositado
o vazio dos cinzeiros
quando os pulmões se recusam já ao fumo
o lugar ocupado à mesa por alguém que se atrasará
o relógio parado à cabeceira dos mortos

é despropositado
o gesto de abandonar a chávena na mesa do café de rua
a voz
a música
os olhos caídos
a fuga das mãos para o abrigo dos bolsos

o inverno a sobrepor-se, em cada manhã,
à lenta cadência dos beijos

é despropositado
o tremer do corpo na tua ausência

1 comentário:

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a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

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