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Lilya Corneli
todos os dias há sempre algo despropositado
até a manhã quando a chuva escorre
ininterruptamente nos vidros e as folhas das árvores parecem cabelos
molhados no embalo do vento
é despropositada a voz
a música
os olhos caídos
a fuga das mãos para o abrigo dos bolsos
é despropositado
o vazio dos cinzeiros
quando os pulmões se recusam já ao fumo
o lugar ocupado à mesa por alguém que se atrasará
o relógio parado à cabeceira dos mortos
é despropositado
o gesto de abandonar a chávena na mesa do café de rua
a voz
a música
os olhos caídos
a fuga das mãos para o abrigo dos bolsos
o inverno a sobrepor-se, em cada manhã,
à lenta cadência dos beijos
é despropositado
o tremer do corpo na tua ausência
1 comentário:
...
adorei
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