"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

terça-feira, novembro 03, 2009

para ti.


"Na cidade não se falava de amor
mas eu amava
e resistia à cidade
porque falava de amor"

Filipa Leal

E é assim que começo por te dizer.


os amigos amam-se. como se amam as tardes
longas de outono
e as folhas secas a estalarem no chão.
amam-se como se amam as primeiras chuvas
que os gatos lambem das janelas.
amam-se em segredo, baixinho, em voz alta.
como se amam as aves que abandonam as manhãs no
parapeito das casas e tecem histórias de viagens
de lés-a-lés.

digo-te isto porque sim. porque é triste nas tardes longas de outono
falar-se sozinho.

quando se amam os amigos
eles vêm salvar-nos com chá e bolachas
e o tempo passa a falar-se de coisas tão banais e simples
como o baloiçar lento das árvores
ou o assobio das borboletas pelos quintais.

quando se ama, não é preciso falar-se do amor.
o amor existe. está lá. é silêncio. um pedaço de mar.
uma concha. um fio de luz.

por isso, e só mesmo por isso,
isto é como se não te tivesse dito absolutamente nada.


















Ana C.

3 comentários:

A.V. disse...

É o não dizer nada mais bonito da história. Saudades de ti. E dos chás com bolacha também.

Semente disse...

Que bonito!
As palavras que li hoje encheram-me o coração!

Ana, nunca deixe de escrever assim, pode ser?

Susana Miguel disse...

um beijinho, ana.
enche o coraçãozinho, este texto:)

Ontem foi:

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a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

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