"Na cidade não se falava de amor
mas eu amava
e resistia à cidade
porque falava de amor"
Filipa Leal
E é assim que começo por te dizer.
os amigos amam-se. como se amam as tardes
longas de outono
e as folhas secas a estalarem no chão.
amam-se como se amam as primeiras chuvas
que os gatos lambem das janelas.
amam-se em segredo, baixinho, em voz alta.
como se amam as aves que abandonam as manhãs no
parapeito das casas e tecem histórias de viagens
de lés-a-lés.
digo-te isto porque sim. porque é triste nas tardes longas de outono
falar-se sozinho.
quando se amam os amigos
eles vêm salvar-nos com chá e bolachas
e o tempo passa a falar-se de coisas tão banais e simples
como o baloiçar lento das árvores
ou o assobio das borboletas pelos quintais.
quando se ama, não é preciso falar-se do amor.
o amor existe. está lá. é silêncio. um pedaço de mar.
uma concha. um fio de luz.
por isso, e só mesmo por isso,
isto é como se não te tivesse dito absolutamente nada.
Ana C.
3 comentários:
É o não dizer nada mais bonito da história. Saudades de ti. E dos chás com bolacha também.
Que bonito!
As palavras que li hoje encheram-me o coração!
Ana, nunca deixe de escrever assim, pode ser?
um beijinho, ana.
enche o coraçãozinho, este texto:)
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