"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

segunda-feira, março 26, 2007

Os materiais do amor, seguido de O desafio à tristeza de Eduardo White, um autor moçambicano, está a corresponder às expectativas que eu alimentava há algum tempo em relação ao próximo livro de poesia que comprasse.
Do erotismo à tristeza a distância é mínima.


Está quieta. Não passeies em mim as mãos des-
sa maneira. Nem a boca. Nem a boca na robus-
tez com que a deixas cair tão lenta, tão sonora, tão
cheia de vento. Devastas-me. Sinto-o pelas veias,
pelas têmporas. Pela carne e pelo peso.
Vou apagar o cigarro, já não queima. Agora, só
a tua língua que tem o amor com outra aderência.
Sobe-me essa surda serpente, lava-me os movi-
mentos. Eu não páro de sentir coisas dentro do
meu ventre. Palavras que sopras? Um pássaro, o
mais certo, que para ali o terás espantado. Fugiu-
te da boca. Se conseguires, demora as mãos um
pouco mais para perto. O seu coração bate. La-
teja de tanto deslumbramento.
Não, não é o meu.
Meu é só o mar, a água ali dormente ou o que
então assim reaprendo. Mas ferve. Não te aper-
cebes? Vá, devagar abre-lhe o coração.

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Ontem foi:

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A minha foto
a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

Sopra-me ao ouvido: