
©ana
fiz-me à estrada antes que levantasse o nevoeiro. os gatos no banco detrás. o porta-bagagens cheio de planos para as férias. a rádio a oscilar de frequência. em pouco mais de 300 kms, duas paragens para cortar o sono, antes que o nevoeiro levantasse. e levantou. e subiu o calor do asfalto. e andou o sol a passear-se pelo corpo. e o conta-quilómetros sempre a exceder o limite. dantes lisboa era a casa de partida, agora é a casa de chegada. e por isso as papas de serrabulho da véspera a contorcerem-se na memória do estômago. ou o pedaço de fugaça quente com manteiga. mudam-se os lugares, mudam-se as vontades. e quem nos recebe de braços abertos não imagina a quantidade de matéria que se acrescentou nos entretantos ao espírito, para além dos gatos no banco traseiro, para além dos piercings na fisionomia do rosto, para além dos novos paladares.
dou por mim, tal como os gatos, a fazer o reconhecimento de um novo espaço, de novos cheiros, porque o corpo esquece depressa o que já lhe pertenceu. e adormecemos os três,eu e os gatos, já sem nevoeiro, sobre a cama onde por sorte o sol não bate.

©ana
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