"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

quinta-feira, outubro 04, 2007


ana



3 anos a respirar esta cidade.


ainda me sinto a chegar a casa.
muito sobreviveu à distância dos braços, à ausência do olhar. o próprio corpo resistiu a afogar-se nas noites mais escuras. e vou acreditando que é possível fazer-se companhia, cicatrizar-se feridas, partilhar sorrisos, apesar dos 300 kms de asfalto irregular pelo meio. nenhum abraço é capaz de substituir outro abraço. isso eu sei. e o corpo às vezes cresce demasiado. transborda. rompe costuras. pede que lhe injectem esperança e calor. hoje quero deixar-me sufocar na certeza de que existo aqui. que sou casa. que vocês têm lugar à minha mesa. que não deixei de ganhar mesmo quando (me) perdi. três anos não foram três dias. foram casas. camas. corpos. bocas. olhos. pétalas.gargalhadas. dor. cimento. tijolo. vento. mãos.
ainda me sinto a chegar a casa. descalço os sapatos para sentir o chão.

sinto o chão.
sinto o chão.
sinto o chão.


hoje aqui.
amanhã ainda não.

5 comentários:

bruno disse...

bom isto, ana.
redenções pequenas
da escrita. com muitos
kms pelo meio. o corpo
às vezes cresce
demasiado.
sim.
e sente-se bem, isso
que diferencia três
anos de três dias.
(há muitas casas
de papel, por aí)

ana c. disse...

obrigada, bruno. as tuas palavras reduziram significativamente a distância.

Natália Nunes disse...

Sensacional, a começar pela foto.

Anónimo disse...

Este fds vi um filme chamado Shorbus... que acaba com uma ideia que não me é estranha: "No fim, tudo fará sentido". Só não sei em qual.

Magnólia disse...

Longe de Lisboa é certo, mas numa cidade que me ajudaste a descobrir.
300 e tal kilometros nos separam, mas qd não separavam não estavamos tão perto quanto agora.
Apesar de longe, é bom saber-te perto!

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a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

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