"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

murder ballads

as árvores irrompiam paredes dentro
as mãos eram raízes
os pés eram raízes
escrevia no cimento com os lábios
com a boca
tinha olhos na ponta dos cabelos em chamas
o fogo eram as sombras a consumirem
as madeiras do corpo
o soalho a ceder na ausência de vultos

nenhuma flor a tecer manhãs nas janelas
nem a abrir palavras na boca

eu quis a morte lentamente
como se morrer fosse apenas dormir para sempre

lembras-te? a morte seria apenas como dormir para sempre

e a noite um barco ancorado em praias
onde o mar nos subia em remoinho a pele dos sonhos

eu quis um dia fechar o mar num aquário
mas desconhecia o rumor das ondas contra paredes de vidro
desconhecia a fome dos corações fora de água

ouviste? eu desconhecia a fome dos peixes fora de água

o mundo devia ser mais bonito de pernas para o ar

falta-nos ainda varrer a terra dos pés para caminharmos sobre nuvens
e acordarmos de cada vez que fecharmos os olhos

lentamente

ouviste?


where the wild roses grow. Nick Cave&Kylie Minogue


[os teus dedos sabem como soprar nas veias eclipses solares. e esmagar o veneno da noite.]

2 comentários:

Menina Limão disse...

"falta-nos ainda varrer a terra dos pés para caminharmos sobre nuvens" :)

ana c. disse...

e que bem me saberia agora esse algodão todo debaixo dos pés...

Ontem foi:

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a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

Sopra-me ao ouvido: