"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

domingo, março 30, 2008


Saul Leiter, foot on El,1954

há-de chegar abril por entre os dentes e esconder-nos-emos a tecer
o trigo, as flores das laranjeiras, o alecrim

a medir a altura dos girassóis na planície a sul dos ombros

inventam-se novas estações

a camisa amarrotada na revolta dos telhados
o piano a imitar o descompasso da chuva

queria barcos a nascer dos ramos dos corpos e selar a água dos lábios
sem ferir nenhuma linha de pele
o céu a parir cinza e fogo e as pedras a rolarem contra as paredes do coração
esfaimado

um revólver uma pulseira uma pétala uma caneta suspensa dos pulsos
uma floresta de mapas a confundir a geografia das mãos
a imunidade das bocas

digo-te há papoilas a escorrerem dos livros
façamos um chá

há noites que são noites mas não escurecem

e agora que penso nisso
e abril não tarda
talvez volte a rezar antes de ir dormir

2 comentários:

ulrich disse...

aprender a rezar na era da técnica

Queen Frog disse...

...tão forte*

Ontem foi:

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a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

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