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ana c.
Coisas sobre as quais ainda não escrevi nem vou escrever acumulam-se nas páginas brancas dos caderninhos que transporto no bolso, na mala, na mochila, na mão. É aí que guardo as sensações das viagens que vou permitindo ao corpo. Das paisagens que me entram pelos olhos mesmo quando durmo. Dos concertos a que não assisto ao teu lado. Dos livros que começo como desculpa para respirar longe da minha própria história. E acabo tão perto. A primeira vez este ano que pisei o mar e bebi goladas de areia pelas arestas dos pés. O nevoeiro a descer sobre as dunas onde em vez de casas deixaram crescer moinhos. O carro estacionado rente à estrada como a mão estaciona delicadamente rente aos cabelos do vento. Choveu no verão e o limpa-pára-brisas adormecido numa madrugada de domingo.
Quase te vejo chegar. Enquanto aprendo o riso e a fala e a importância dos dedos. Não é mentira que há palavras que se esquecem. Mas é mentira que jamais as voltaremos a lembrar um dia. Mais tarde.
*secret heart, Feist
(A propósito de Feist, a aula magna encheu-se. Bateu palmas em demasia. Não foi mágico. Mas teve momentos de grande magia.)
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