Eu tinha a melhor das intenções quando decidi partir. E a melhor das intenções era querer voltar. Mas antes de voltar eu queria ter dado voltas ao mundo para que ele saísse do lugar. Eu queria ter mochilas e sacos de viagem cheios de estórias, fotografias, mapas de cidades, pacotes de açúcar, folhetos do que aconteceu e eu vi, folhas de árvores recolhidas de avenidas enormes, notas escritas à pressa em mesas de cafés, bilhetes de cinema e de concertos, entradas para museus, memórias de janelas com vista para jardins... Em vez disso, subi e desci sempre as mesmas ruas. Desaprendi o fogo porque o Inverno foi lento e frio. Habituei-me em demasia aos casacos. Ao chá pela noite dentro. Desenvolvi a capacidade de me esquecer das coisas.
Tenho escrito muito pouco. Não que me deixe emocionar menos pelo mundo e pelas pessoas. Mas porque não me permito corromper o coração, trazendo-o para um tempo de escassez. Quero manter-me distante do que tenho que ser agora. Vivo a tempo inteiro aquilo que sempre vivi a meio-tempo. E começo a compreender o que verdadeiramente nos envelhece.
Nestes dias, é um privilégio ter onde, por fim, pousar as mãos. E, às vezes, é isso, só isso, e apenas isso, que me empurra o sorriso ao longo das horas.
Aqui estou. Hoje. Amanhã, arranquem-me o coração, ou devolvam-mo.
"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro
quinta-feira, maio 14, 2009
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5 comentários:
Decerto devias escrever sempre ou mais. As palavras como retrato são mais fiéis que os sorrisos ou a rotina que nos envelhece..
Permita-se viver o que ainda há de ti neste tempo de escassez, pois
pior que perdermos-nos no tempo, é perdermos-nos de nós próprios.
Lindo!
a maneira como escreve me faz estar sempre a espera de um novo post.
mas este eh o primeiro comentario q faço.
lindos textos ;)
um beijo em cheio no coração.
obrigada pelas vossas palavras.
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