"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

quinta-feira, setembro 24, 2009

Das portas trancadas

















Ana C.


Doem-me as portas trancadas.
As que abanamos e não se conseguem abrir.
Das que se perderam as chaves.

As chaves das portas trancadas que não se conseguem abrir.

Penso nas portas trancadas da tua casa.
As chaves que se escondem e não mais aparecem
a porta do teu quarto que range sempre que a abres
ou quando se tosse uma réstia de vento.

A madeira sólida do teu quarto
os raios anelares das árvores
agora sem vida
trancam o teu quarto
conservando a resina que cola os meus cabelos à tua porta.

As unhas negras.

O sangue coagulado.

A dor.

A cor.


De como a tua porta se tranca trilhando os meus dedos de solidão.

Joana Serrado, Emparedada/ Uit de muur



As circunstâncias em que ficamos a conhecer um livro nada acrescentam, na maior parte das vezes, ao efeito que ele pode ter sobre nós. A mesma coisa sobre conhecer, ou não conhecer, pessoalmente o seu autor. Fosse a Joana Serrado uma desconhecida, a simples autora do já descoberto Tratado de Botânica, e este poema teria tido o mesmíssimo efeito em mim. O efeito de emparedamento...(Peço desculpa mas não consegui respeitar a formatação original do poema.)

1 comentário:

Menina Limão disse...

não conseguiste respeitar?! wow. :p

Ontem foi:

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a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

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