"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

quinta-feira, novembro 30, 2006

véspera de amanhã

As tuas mãos ainda guardam a voz do velho vento a cantar nas folhas do jardim? Fecha-a. Que não te escape um silêncio sequer. Nem uma folha seca. O outono já vai longo. Trinquemos-lhe os lábios.
Se te beijo, fico. Promessa de outono. Lugar comum. E a noite cai. Aconchego os olhos à luz dos candeeiros. Entre os dedos não é um cigarro que arde. São as memórias.
Não me queixo.
Respiro.
E a lua dá meia-volta no trapézio dos sonhos.

conto de natal

os natais em casa dos meus pais não estão assim tão distantes. aliás, conheço poucos para além desses. os rituais que lhes estão associados, apesar de serem rituais, consigo descortinhar-lhes sempre, nem que por um instante, qualquer coisa de especial. ainda hoje.
a árvore e o presépio são sempre montados no feriado de 8 de dezembro.
talvez por essa data estar próxima. talvez porque este será um natal diferente para mim, hoje não resisti e comprei um pinheiro, um pinheiro verdadeiro, embora diferente dos da minha infância. mesmo sem qualquer jeito para essas coisas, vou um destes dias, dia 8 ou não, dedicar-me a decorá-lo.
mas sei que acabei de comprar uma prenda de natal antecipada para os meus gatos que, concerteza, vão adorar dependerurar-se nele e nos seus enfeites coloridos...

quarta-feira, novembro 29, 2006


©Az

assim a lua, segura entre os braços,
candeeiro a pulsar na sombra.
assim o peito, coração dentro.
ponto.

cratera.

©Az


(...)I travel light
You travel light
Everything I’ve done
You say you can justify, mmm you travel light
I can’t pick them out, I can’t put them in this saddle bag
Some things you have to lose along the way
Times are hard, I’ll only pick them out, wish I was going back
Times are good, you’ll be glad you ran away
(...)

tindersticks - travelling light

terça-feira, novembro 28, 2006

As aves de hoje


Az

Tendencialmente tristes,
as aves de hoje paradas no olhar.

O voo não chega
aos braços dos homens:
as asas ferem-lhes o rosto, cegam-nos.

Tendencialmente tristes,
os homens de hoje tiram penas
dos olhos.

Ficam comovidos e parados no olhar
das aves.

Ficam em terra.

Só um pássaro se anuncia,
veloz,
contra o céu.

Filipa Leal, A cidade líquida e outras texturas

segunda-feira, novembro 27, 2006

Construí uma mentira


©Az

Não é algo que sonhe.
Tive-te quando mais queria
Ficaste enquanto quisemos
E partiste quando quiseste

Não era fundamental
Partilhar mais do que nós
Quando te tive temi que me quisesses
E quis-te muito forte quando partiste

Talvez volte a ter-te
Alterarei o que escrevi
Não que a história mude,
Essa repetir-se-á

Sinto que só assim
Com mais uma vez
Terei um ponto final

Não, não pensei que tinhas algo a esconder
Pareceu-me tão claro o que nos estava a acontecer
Se o que trocámos não conta, eu não quero viver
Construí uma mentira que me está a corromper.

Em escuta: Balla: A grande mentira
letra: Armando Teixeira

domingo, novembro 26, 2006



Nenhum epitáfio te caberá nas mãos.

sábado, novembro 25, 2006

Há no abismo das coisas partes adormecidas que é preciso despertar.

Leibniz

sexta-feira, novembro 24, 2006

há um ano, acordar junto ao vltava. uns graus abaixo da temperatura a que a pele se habituara. vestígios de neve. nevoeiro sobre a ponte. kafka entre os passos. vystup a indicar a saída.




Hoje sei: Praga foi uma viagem sem regresso.

quinta-feira, novembro 23, 2006

cemitério de pianos

Novo romance de José Luis Peixoto



(...)Sempre foi claro para mim que o meu pai se zangava e batia no meu irmão porque essa era a sua forma de lidar com a tristeza, com a mágoa que sentiu a partir daquela tarde em que o meu irmão ficou cego de um olho. Essa era a sua forma de o castigar. Sempre foi igualmente claro para mim que o meu pai não se zangava comigo e não me batia pela mesma razão. Essa era a sua forma de me castigar.(...)

quarta-feira, novembro 22, 2006

entre as mãos ardias devagar


©Az

mas eras chuva

pata de gato em chão macio



simão e teresa, os meus dois amores.

terça-feira, novembro 21, 2006


©Az


É a distância
o parágrafo dos olhos

Maria Teresa Horta

segunda-feira, novembro 20, 2006




Como um
coração insepulto
busca
o fulgor
da onda. É talvez
uma lágrima
escura, uma guitarra
de água adormecida
no berço
do crepúsculo.

Albano Martins


à venda na maria vai com as outras

domingo, novembro 19, 2006


©Az


talvez me escorras hoje pelos cabelos
e ao endireitar da curva
os passos encerrem melodias de pássaros
de uma primavera futura

sábado, novembro 18, 2006

o inverno aconchega-se lentamente à pele
os gestos frios, o livro aberto, o café pousado na folha de jornal
nem uma gota de chuva para lamber a ferida
nem um cigarro para atear lume à memória
não gosto do quadro na parede
a parede parece-me torta
endireito o tronco
caem-me as folhas
repara: não há relógios na casa
o tic-tac lento dos minutos
apenas o miar chato do gato
o silêncio a escorrer pelas cortinas
o vento a insinuar-se junto das janelas
nas mãos, um mapa de regressos

e vou para longe
já ali, ao virar da esquina
ou onde tropeçar na primeira flor de primavera



n'sample

(gosto muito das fotos desta minha amiga.fica escrito.)

quarta-feira, novembro 15, 2006


© Az

o olhar: amálgama de todas as partidas.

Cris

Quero apenas um pequeno parágrafo na história da tua vida.

terça-feira, novembro 14, 2006


Joana Linda

a memória não se rasura

segunda-feira, novembro 13, 2006

Festival Radar - onde eu gostaria de ir mas não posso...


01 Dez - Stuart Staples- Aula Magna - 21h00 - bilhetes: entre 23 e 30 euros


02 Dez - Lisa Germano - Santiago Alquimista - 22H00 - bilhetes: 20 euros


03 Dez - Yo La Tengo - Aula Magna - 21H00 - bilhetes: entre 22 e 27 euros


04 Dez - Cat Power - Aula Magna - 21h00- bilhetes: entre 23 e 30 euros

sexta-feira, novembro 10, 2006


Nelson D'Aires

Dois mundos - e eu venho do outro.

Cristina Campo, o passo do adeus


almodovar tem a capacidade de escolher bandas sonoras que fazem chorar.

quinta-feira, novembro 09, 2006


bright white light


A poesia está aí, nos instantes das borboletas.

Ana Tinoco, carta sem metáforas, edição de autor

quarta-feira, novembro 08, 2006

la valse d'amélie

terça-feira, novembro 07, 2006


©Az

a vida ri de tudo o que nos faz chorar.

Agustina Bessa Luis

Az, videophages, r.do almada

há sempre alguém a ver, mesmo o que não há para ver.

sábado, novembro 04, 2006

memória


©Az

Passeávamos devagar
pelos jardins
coleccionando nos olhos as estátuas
as árvores - o bronze
e o calor que existia no voo
de cada pássaro

Agarrada à tua mão
ao teu casaco
sentia um medo solto de criança
sabendo naquilo que te dava
os outros viam só caprichos brancos

e assim andávamos
calados
rasgando cada dúvida
aos bocados

Maria Teresa Horta

sexta-feira, novembro 03, 2006

o anel de moebius

como tudo isto é uma projecção: como
tudo um símbolo: como tal: uma maneira
de dizer: uma dejecção: ou seja: medo
de que a pele inche: estoure: não suporte
mais: isto que está dentro: o correr
do tempo: dito: como tal: como tudo

Alberto Pimenta



©zibners

quinta-feira, novembro 02, 2006

o ser humano tem uma necessidade de consolo impossível de satisfazer.

stig dagerman


Paulo Pimenta

Ontem foi:

About me:

A minha foto
a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

Sopra-me ao ouvido: