"Isto é o que hoje é". Para mim uma desculpa para isto que aqui é hoje, que aqui enterro sem precisar de esgravatar a terra. Ter um blogue é a afirmação mais completa de solidão e, simultaneamente, a forma mais simples de a partilhar. Ou seja, a solidão que deixa de o ser, não por altruísmo mas, muito pelo contrário, por essa tendência narcísica que todos temos, em doses diferenciadas, de contemplarmos o nosso próprio reflexo. E tenho a certeza que do outro lado do espelho não me falam, não me olham, por mera vontade de entrar por mim adentro mas, pela simples razão de ser assim um pretexto para se olharem um pouco por dentro também.
O dia-a-dia impõe-se. Quem não fecha os olhos procura encontrar-lhe beleza nos pormenores. Procura apaixonar-se aqui e ali. É verdade, como em tempos me disseram, apaixonamo-nos todos os dias um pouco. Um pouco mais. Mas a paixão atormenta. Aprisiona. Vicia. O belo vicia. Porque nos engrandece o espírito.
E hoje é também isto. Eu aqui e se estender o braço ficar outro corpo ao alcance da mão. Ser o espelho os próprios olhos do outro. A fragilidade dos outros aqui bem próxima, sem virtualidades que a deformem. Daqueles que andam por aí a perguntar a estranhos onde foram buscar o seu sorriso. Combatem a própria fragilidade embaraçando, incendiando a ponta do rastilho. Nunca saberei como lhes responder. E também eu encontro neles um pretexto para me deixar olhar por dentro. Narcisicamente.
Só temo o dia em que me despenharei sem respostas.Por que não soube eu nunca perguntar.
"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro
sexta-feira, outubro 19, 2007
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7 comentários:
Todos os dias nos apaixonamos um pouco mais ou nos desapaixonamos um pouco mais?
ou: será que nos apaixonando um pouco mais por umas coisas nos desapaixonamos um poucos mais de outras?
o que era desnecessário são as pessoas que utilizam o blog delas, para lhes fazerem cócegas ao ego... e afins.
o teu título, faz-me lembrar os anúncios Nestea ("secos", diga-se de passagem). MUDASTI MUDASTI! fizeste de propósito?
fazemos todos um boacinho de cócegas ao ego com os nossos blogues. ainda que não seja essa a intenção.
mutatis mutandis é uma expressão em latim, bastante usada em meios académicos. nada a ver com a Nestea. Mas a maioria dos académicos são "secos" como os anúncios da NESTEA ;-)
:)
concordo com a tua visão narcisista da coisa, mas queremos tanto umas cócegas no ego aqui como 'lá fora', certo? existem muitas razões para se criarem e manterem blogs. umas mais fortes e frequentes que outras, no entanto este 'mundo' embora de certa forma 'adulterado' não é senão uma transposição das ligações/relações sociais que existem fora daqui. há quem procure empatias, reconhecimento, uma fuga para a solidão, um espaço para introspecção, para o exorcismo, e até para o amor. exactamente como procuram lá fora. sendo um blog uma extensão de nós mesmos, nem outra coisa seria de esperar... that's who we are...
bom, gostei de ler :)
ahh e nós PRECISAMOS de nos apaixonar um pouco todos os dias, sob pena de sufocar_mos.
mas os desencantos existirão sempre...
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