"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

quinta-feira, maio 29, 2008

perdidos e achados

façam um exercício:

se perdessem a vossa pen drive o que é que a pessoa que a encontrasse ficaria a saber sobre vocês?

bem, talvez seja melhor não descuidar o uso e transporte desse objecto já tão banalmente integrado no quotidiano... quem encontrar a minha vai ter muito por onde exercer o seu voyeurismo.

quarta-feira, maio 28, 2008

And then the lights came on
In the middle of the night



Gosto destas salas forradas a dourado e vermelho, onde sentar o corpo é mágico mesmo antes de acontecer o que quer que seja em palco.

E antes de anoitecer na sala, a familiaridade de rostos, a ansiedade de ver nascer vozes por entre jogos de luzes, de instrumentos, de corpos, de máscaras.

Temo não ter bagagem lexico-musical para escrever sobre o que ontem se passou no Theatro Circo.

Talvez deva começar por dizer que o fascínio por Cocorosie começou tarde. Depois de La maison de mon rêve e de Noah's Ark. Foi The Adventures of Ghosthorse and Stillborn que me fez mergulhar nos álbuns anteriores. Foi aquela voz de Rosie (Sierra), em canto lírico, por entre rajadas de techno/hip-hop de Coco (Bianca)que me arrebatou numa tarde em que, sem esperar, o cd de mp3 colocado no leitor me surpreendeu a dada altura com qualquer coisa de invulgar. Talvez não chovesse nessa tarde. Mas arrepiava. Talvez fosse Inverno.

As máscaras são mera figura de estilo. Pleonasmo. Eufemismo. Hiperbole. Elipse. Paradoxo. Mas, sobretudo, Clímax.

Gosto de coisas simples e nada do que as Cocorosie fazem consegue condensar-se nesse adjectivo. Ainda que seja pouco apreciadora de uma linguagem electro-techno-hip-hop, não consigo deixar de ver na actuação das manas Casady arte, mesmo que, por vezes, se refugiem nesses estilos musicais. Do meu ponto de vista, mesmo que se esforçassem as Cocorosie não conseguiriam ser vulgares. A sua poética é demasiado transbordante para se anular numa música, num lapso técnico, numa noite. Por isso, compreendo que mesmo na desilusão, essa poética resista.

Desilusão foi coisa que não me aconteceu ontem à noite. Eu quis e deixei-me arrebatar.

E no caminho de regresso apeteceu-nos o silêncio. O nosso. O da chuva. Se tivesse chovido. Porque havia ainda demasiada música por dentro.

Eufonia.

terça-feira, maio 27, 2008

Antes do verão, já era incêndio.
E tão perto se ficava do mar.


ana c.

I've been here so long*

De lisboa, um fim de tarde de maio. As nuvens a insinuarem-se antes do cair da noite.
Os candeeiros, os semáforos e os arranha-céus no caminho dos olhos e do retrovisor.



ana c.

De Lisboa, ainda e sempre os jacarandás e os telhados das casas e o rio,
do cimo de um qualquer miradouro.


ana c.

Em cada regresso, ser-se um pouco de estrangeiro. É inevitável.

[Para quem não me viu: eu, na verdade, se fui, fui num pé e vim no outro.]

*Tinderstickes, say goobye to the city

segunda-feira, maio 26, 2008

Cocorosie & Scout Niblett

Cocorosie. Duas mulheres. Três discos. Um mesmo sobrenome: Casady. Bianca e Sierra. La maison de mon rêve, Noah's Ark e The Adventures of Ghosthorse and Stillborn. Tocam e cantam coisas como "Jesus Loves me", "By your side", "Not for sale", "Promise" and son on.
Amanhã não sei se se apresentarão como "Terrible angels", "Rainbowarriors" ou outra coisa qualquer. O que importa é que estarei
. "By your side".





You can leave me
On the corner
Where you found me
I'm not for sale anymore


Not for sale, Cocorosie





Scout Niblett era uma perfeita desconhecida para mim até alguém me convencer que o concerto agendado para o dia 29 de maio no mercado negro seria imperdível. Imperdível, ou não, eu quero lá estar. E se não estivesse já convencida, ler a reportagem do Ipsilon, de 23 de maio, sobre esta songwriter inglesa, ter-me-ia convencido de certeza. Alguém capaz de escrever e cantar sobre a "sensação de comer alguém por dentro" e que admite ter "dificuldade em equilibrar a necessidade de ter alguém com a dependência que isso causa" deve mesmo ter "veneno doce na língua*".

Scout não estará só no mundo quanto à frágil necessidade de possuir o outro como se daí não adviesse qualquer dano ou perda.

E percebo-a tão bem quando canta "I am an emergency vehicle" ou "There's never enough kissing"...



*João Bonifácio, Ipsilon, Público

quinta-feira, maio 22, 2008

para o L.

substituir os preservativos
é a única maneira de estar acima das circunstâncias
porque os preservativos corrompem-se
e o mesmo sucede às circunstâncias.
as circunstâncias
a bem dizer não cessam de corromper-se
corromper-se é o modo de ser das circunstâncias
enquanto o modo de ser dos preservativos
é o mesmo,
sendo por isso que
a única maneira de estar acima das circunstâncias
é substituir os preservativos
ir substituindo sempre os preservativos,
assim se mantendo
acima das circunstâncias.

alberto pimenta, a sombra do frio na parede, edições mortas

tempo de cerejas



ana c.

quarta-feira, maio 21, 2008

heaven is a place on... heart


Ana C., Caminho Santiago-Finisterra, 20-23 de maio 2007

e julgávamos nós que o mundo poderia caber numa só moldura de beira de estrada.
o mundo não é tão grande assim. o mundo.
pois se até a terra acaba...


nada do que nos foi se repete.ámen.

segunda-feira, maio 19, 2008

God has given you but one heart

As I Sat Sadly By Her Side - Nick Cave



As I sat sadly by her side
At the window, through the glass
She stroked a kitten in her lap
And we watched the world as it fell past
Softly she spoke these words to me
And with brand new eyes, open wide
We pressed our faces to the glass
As I sat sadly by her side

She said, "Father, mother, sister, brother,
Uncle, aunt, nephew, niece,
Soldier, sailor, physician, labourer,
Actor, scientist, mechanic, priest
Earth and moon and sun and stars
Planets and comets with tails blazing
All are there forever falling
Falling lovely and amazing"

Then she smiled and turned to me
And waited for me to reply
Her hair was falling down her shoulders
As I sat sadly by her side

As I sat sadly by her side
The kitten she did gently pass
Over to me and again we pressed
Our different faces to the glass
"That may be very well", I said
"But watch the one falling in the street
See him gesture to his neighbours
See him trampled beneath their feet
All outward motion connects to nothing
For each is concerned with their immediate need
Witness the man reaching up from the gutter
See the other one stumbling on who can not see"

With trembling hand I turned toward her
And pushed the hair out of her eyes
The kitten jumped back to her lap
As I sat sadly by her side

Then she drew the curtains down
And said, "When will you ever learn
That what happens there beyond the glass
Is simply none of your concern?
God has given you but one heart
You are not a home for the hearts of your brothers


And God does not care for your benevolence
Anymore than he cares for the lack of it in others
Nor does he care for you to sit
At windows in judgement of the world He created
While sorrows pile up around you
Ugly, useless and over-inflated"

At which she turned her head away
Great tears leaping from her eyes
I could not wipe the smile from my face
As I sat sadly by her side

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Canções quase perfeitas. Como o mundo entre janelas.

sábado, maio 17, 2008

Let the wind blow through your heart*


Paris Je t'aime


Era madrugada e a cidade ardia ainda nos olhos
a cidade são duas ou três ruas e uma breve inclinação para o mar disse-te
e tu: havemos de caminhar de mãos dadas antes do nascer do sol

de mãos dadas é possível medir a distância entre o rio e a lua
e tombar a cabeça sobre o peito sem ferir o coração, pensei

a dada altura, contei-te os dedos: eram vinte
sem excluir os meus
e foi assim durante algum tempo
o tempo das igrejas e dos cafés fechados,
dos corpos adormecidos ao relento

lembro-me: antes de alcançarmos o primeiro santuário a céu aberto
havia já um leve incêndio sobre a pele

e talvez, não sei,
tenha sido nessa altura
e não noutra qualquer,
que do tecto da cidade
uma espécie de voz,
lamento, riso ou chuva,
se desprendeu


*wild is the wind, versão Cat Power

quinta-feira, maio 15, 2008

o que for, quando for, é que será o que é.



Alberto Caeiro

sexta-feira, maio 09, 2008

THE HUNGRY SAW - TINDERSTICKS



Há coisas pelas quais vale a pena interromper o silêncio.

RACHAEL

Ontem foi:

About me:

A minha foto
a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

Sopra-me ao ouvido: