"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro
terça-feira, janeiro 30, 2007
Az
desalinho os discos e os livros, os papéis e a roupa...fecho páginas, gavetas, portas. a chave dos próximos dias guardada no bolso das calças que deixei por vestir no último verão. um escrito esquecido. duas ou três linhas de silêncio. poema inacabado. vou vestir o casaco e sair para a rua. acender um cigarro e esperar que no virar de uma esquina alguém me encontre.
reparo que de tudo o que se leva de uma casa só uma coisa, e uma coisa apenas, valeria a pena não esquecer: as paredes, verdadeiras páginas de diários nunca escritos.
segunda-feira, janeiro 29, 2007
em conversa com uma amiga ela dizia-me: nas estórias, o príncipe encantado só está lá para nos foder a cabeça! para nos fazer acreditar numa coisa que não existe!
só para chatear os príncipes dos contos, hoje não me deito sem antes ler a estória dos três porquinhos. mal por mal, mais vale um lobo inofensivo!
só para chatear os príncipes dos contos, hoje não me deito sem antes ler a estória dos três porquinhos. mal por mal, mais vale um lobo inofensivo!
domingo, janeiro 28, 2007
quero falar-te mais perto do olhar a janela fechou-se e o dedo ficou entalado entre dois fios de cabelo chamo à noite estrada e quero ser pés e asas e não ter medo de perder o chão agarra-me tu prova-me o perfume a memória eu quero arder lentamente num poema ser choro e riso esquecer-me dos retratos tirar os sapatos e fingir-me descalça em campos de flores mas quero falar-te mais perto do olhar sem rodeios sem segredos sem medo de errar estás a ver estas mãos? há por aqui sonhos e quero lembrar-me deles quando acordar
sábado, janeiro 27, 2007
Az
talvez um dia regresses e resistas à exaustão
da viagem fechando-te na cúpula silenciosa
de quem assiste ao mover do seu próprio sangue
talvez entres num autocarro e graves nas janelas
as paisagens, outros lugares ainda certos
roteiros de cidades incendiadas
pontes ruindo sobre os rios o fim de tarde
isabel coelho dos santos, o tempo mais puro
sexta-feira, janeiro 26, 2007
quinta-feira, janeiro 25, 2007
e com traço fino desenhas-me as mãos a noite sem se revelar
ainda há sol e esqueço-me dos óculos na mesa do café
o papel é de que cor? São de que cor os olhos? À janela o gato desfia as horas e o pelo
deita-te na palma da minha mão lambe-me o sorriso
tanta gente e ninguém capaz de me roubar uma flor
os pés descalços e tropeço no frio
é de que cor o chão? quantos são os dedos?
não quero sentido nas palavras que se percam as cartas
todas as cartas todas as letras todas as linhas que te canto
que me abrace o vento se é de vento a chuva que cai nos telhados
que me cresçam pássaros nos olhos que se afoguem peixes no meu peito
de que cor são as pedras?
um copo de vinho que emudeça os lábios que amarre o beijo
ficam por dizer tantos e tantos abraços tantos e tantos abraços
e ainda nem sequer é noite e ainda nem sequer é poema
apenas cinza de cigarro apenas esboço de uma casa
dizias-me perto demais quanto mais longe
dizias-me distantes lábios beijo quente
mas és capaz de me roubar uma flor?
e de que cor hei-de pintar as paredes?
ainda há sol e esqueço-me dos óculos na mesa do café
o papel é de que cor? São de que cor os olhos? À janela o gato desfia as horas e o pelo
deita-te na palma da minha mão lambe-me o sorriso
tanta gente e ninguém capaz de me roubar uma flor
os pés descalços e tropeço no frio
é de que cor o chão? quantos são os dedos?
não quero sentido nas palavras que se percam as cartas
todas as cartas todas as letras todas as linhas que te canto
que me abrace o vento se é de vento a chuva que cai nos telhados
que me cresçam pássaros nos olhos que se afoguem peixes no meu peito
de que cor são as pedras?
um copo de vinho que emudeça os lábios que amarre o beijo
ficam por dizer tantos e tantos abraços tantos e tantos abraços
e ainda nem sequer é noite e ainda nem sequer é poema
apenas cinza de cigarro apenas esboço de uma casa
dizias-me perto demais quanto mais longe
dizias-me distantes lábios beijo quente
mas és capaz de me roubar uma flor?
e de que cor hei-de pintar as paredes?
quarta-feira, janeiro 24, 2007
terça-feira, janeiro 23, 2007
segunda-feira, janeiro 22, 2007
sábado, janeiro 20, 2007
20 de janeiro de 2007
Hoje acordei com a vizinha de cima a dizer caralhadas - desculpem as meninas! - e a fazer berrar a criança. Os meus gatos não paravam de arranhar a porta da cozinha. Hoje acordei com o toque do telemóvel e um amigo a pedir-me guarida. Hoje acordei e pensei: tão bom se pudesse ir ver o mar! E ao fundo a janela, o rio e o mar numa simbiose perfeita. A janela que vai deixar de ser. A casa que vai deixar de ser. A vizinha que vai deixar de ser. Às vezes, é preciso sacrificar uma janela para se poder respirar o mar.
Ontem disseram-me que nunca digo o que vai no mais fundo da minha alma. Só se o fizer para dentro de um buraco negro. Há pessoas que nunca estão satisfeitas com o grau de partilha a que se chega. Dois cigarros depois já nada disso importa. Apenas o cigarro que se vai fumar a seguir. Ontem, ainda, conseguiram insultar-me entre referências a um poema do al berto. Sabes? gosto especialmente desta parte: "desconfio que se disser mar em voz alta, o mar entra pela janela." O café arrefece. E ontem fotografaram-me. Não sei bem porquê. Tentei sorrir. Fingi. Não fingi.
E tudo isto podia ser verdade. Tudo isto podia ser mentira.
Ontem disseram-me que nunca digo o que vai no mais fundo da minha alma. Só se o fizer para dentro de um buraco negro. Há pessoas que nunca estão satisfeitas com o grau de partilha a que se chega. Dois cigarros depois já nada disso importa. Apenas o cigarro que se vai fumar a seguir. Ontem, ainda, conseguiram insultar-me entre referências a um poema do al berto. Sabes? gosto especialmente desta parte: "desconfio que se disser mar em voz alta, o mar entra pela janela." O café arrefece. E ontem fotografaram-me. Não sei bem porquê. Tentei sorrir. Fingi. Não fingi.
E tudo isto podia ser verdade. Tudo isto podia ser mentira.
sexta-feira, janeiro 19, 2007
Az
Surpreende-me a minha própria nostalgia por tempos de que tenho apenas escassas recordações.
Não fui eu que escrevi. Li-o num livro que me emprestaram. Sam Shepard.Crónicas que invejo a cada linha lida. Obrigada Mary por mais este segredo.
quinta-feira, janeiro 18, 2007
quarta-feira, janeiro 17, 2007
sábado, janeiro 13, 2007
27 de junho
Entardeceu na avenida. Rente ao vidro da frente sentados pelo lado de fora, dois amigos conversam.O modo como se riem, como depositam os beijos, faz-me supor que se têm como muito poucos se têm.
Olho-os pelo lado de dentro do vidro rectangular. É como se do argumento de um filme se tratasse, o caixilho enquadrando uma fita de um só plano, de pausas e aproximações, esgares e gestos espontâneos.
Abraçam-se então, demorados e ocorre-me que o amor podia ser isso mesmo, um longo plano sem palavras, sem o equívoco das palavras e a paixão ser essa música que às vezes toca de fundo, uma melodia sem versos num intemporal filme mudo.
João Luis Barreto Guimarães, Lugares Comuns
Olho-os pelo lado de dentro do vidro rectangular. É como se do argumento de um filme se tratasse, o caixilho enquadrando uma fita de um só plano, de pausas e aproximações, esgares e gestos espontâneos.
Abraçam-se então, demorados e ocorre-me que o amor podia ser isso mesmo, um longo plano sem palavras, sem o equívoco das palavras e a paixão ser essa música que às vezes toca de fundo, uma melodia sem versos num intemporal filme mudo.
João Luis Barreto Guimarães, Lugares Comuns
sexta-feira, janeiro 12, 2007
No promises
Carla Bruni tem novo álbum. A revista DNA chama-lhe poemário. Mas o que ela canta, na sua voz quente, são tudo menos promessas.
Com poemas de William Butler Yeats, W.H.Auden, Emily Dickinson, entre outros, será, concerteza, um disco a não ignorar.
quarta-feira, janeiro 10, 2007
futurologias ou determinismos
Quase toda a gente gosta de saber o seu futuro e paga para isso a astrólogos ou às bruxas. Mas só na ideia de que esse futuro seja bom. E é o que eles lhes dizem para não fecharem a porta. Mas o negócio continuaria, ainda que te dissessem que morrerias no dia seguinte. Porque a morte é a única certeza em que não se acredita. Se fores condenado à forca e tiveres já a corda ao pescoço, o minuto que faltava seria ainda de vida, ou seja de eternidade.
Vergilio Ferreira, Escrever
ofereceram-me um futuro em troca de um euro. não tinha moedas comigo.
Vergilio Ferreira, Escrever
ofereceram-me um futuro em troca de um euro. não tinha moedas comigo.
terça-feira, janeiro 09, 2007
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- a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_
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