os dias são feitos de noites intermináveis
de canções que se enroscam ruidosamente ao corpo
e eu trago o inverno a respirar-me junto à face
trago as mãos rasgadas
sem bolsos onde se encolherem de frio
é mais do que certo:
se te visse regressar manhã dentro
não sobraria apenas a geometria das árvores em redor do coração
"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro
domingo, novembro 23, 2008
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postais de inverno
sábado, novembro 22, 2008
quinta-feira, novembro 20, 2008
the book of love
fotografias de Ema Ribeiro
a partir de 21 de Novembro, às 22h30
na maria vai com as outras
r. do almada, 443, Porto
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fotografias com livros
as mãos mais pequenas
As mãos mais pequenas que alguma vez segurei por entre as minhas. As mãos mais pequenas ainda são pequenas. Mas já gatinham. Já quase que caminham sem desequilíbrio. Já batem palmas. Já esboçam palavras. As mãos mais pequenas já têm dentes a nascer por entre o riso. Das mãos mais pequenas já há um dedo que se destaca dos restantes para dizer que têm um aninho.
E eu que andava atrás de casa, lá fui, dar os parabéns, ver o apagar da vela, os risos, o cheiro a bolos. Em cada regresso, o que fica é a ternura que sempre resiste.
(Não sei se é por a minha sobrinha estar a crescer, mas tenho, finalmente, começado a sentir o peso dos trintas.)
E eu que andava atrás de casa, lá fui, dar os parabéns, ver o apagar da vela, os risos, o cheiro a bolos. Em cada regresso, o que fica é a ternura que sempre resiste.
(Não sei se é por a minha sobrinha estar a crescer, mas tenho, finalmente, começado a sentir o peso dos trintas.)
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estas mãos por entre as minhas
domingo, novembro 16, 2008
sigur ros, live at Campo Pequeno, 11 de novembro
Quando um concerto é bom, ainda mais difícil é expressá-lo por fotografia. Mas estas, do Nuno, conseguem fazê-lo na perfeição.
devianArt, fotos by Nuno Fangueiro
devianArt, fotos by Nuno Fangueiro
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Concertos imperdíveis que se perdem
sábado, novembro 15, 2008
gatos temporariamente sós
O Eça e o Pintas eram gatos vadios. O Eça gostava de se enroscar nas pernas de quem lhe apontava o lugar da comida e lhe passava a mão pelo dorso de listas amarelas. O Pintas gostava de ir cheirar os restos do caixote do lixo. De pêlo branco e manchas pretas, castrado, não dava grandes confianças. Se fosse preciso desafiava o Eça para umas guerras de rua.
Apaixonei-me pelo Eça. Pela forma como se moldou à minha mão no momento da primeira festa e pediu mais. O Pintas ripostou quando me aproximei. Ficou abandonado à generosidade da vizinhança.
Gosto de pensar que o Eça vai ser um gato mais feliz. Mas, por outro lado, não deixo de me interrogar: que direito tenho eu de pensar que tirá-lo da sua liberdade é dar-lhe muito mais do que ele alguma vez podia ter na rua?
Está frio. Anoiteceu. E o Eça dorme um pouco mais quente do que ontem.
Apaixonei-me pelo Eça. Pela forma como se moldou à minha mão no momento da primeira festa e pediu mais. O Pintas ripostou quando me aproximei. Ficou abandonado à generosidade da vizinhança.
Gosto de pensar que o Eça vai ser um gato mais feliz. Mas, por outro lado, não deixo de me interrogar: que direito tenho eu de pensar que tirá-lo da sua liberdade é dar-lhe muito mais do que ele alguma vez podia ter na rua?
Está frio. Anoiteceu. E o Eça dorme um pouco mais quente do que ontem.
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gatos vadios
quando radiohead toca numa sexta à noite
Há quem defenda a teoria que atraímos aquilo que mais tememos. Há também quem defenda a teoria que nada acontece por acaso, logo, as pessoas que vêm ter connosco, não vêm ter por acaso, mas sim, porque acabam por, de alguma forma, ser uma projecção nossa. Eu devo começar a preocupar-me seriamente com o tipo de pessoas que atraio, desde o espécime único e desconhecido que me aborda na rua com um estranho "olá. posso ser teu amigo?", quando vou atrasada para o trabalho, ao indivíduo que me entra pela porta, ou pelo ouvido, no meu dia-a-dia de trabalho.
Mas hoje caiu-me mais um piercing do corpo. E, das duas, uma: ou se me escaparam mais alguns neurónios pelo buraco inflamado, ou eu nunca os tive.
No fundo, tudo é possível. Até porque a verdade pode não passar de uma projecção da própria verdade.
Porém, tenho saudades de casa. Ando a pensar nisso. Da cidade e do rio, do bairro onde gosto de parar nas janelas a pensar nos aviões que já vi a caírem do céu, dos amigos, da família, do gato emprestadado...Saudades de casa. Daquela que já não é. Mas sempre será.
É ali, já ao fundo da rua, não é?
Mas hoje caiu-me mais um piercing do corpo. E, das duas, uma: ou se me escaparam mais alguns neurónios pelo buraco inflamado, ou eu nunca os tive.
No fundo, tudo é possível. Até porque a verdade pode não passar de uma projecção da própria verdade.
Porém, tenho saudades de casa. Ando a pensar nisso. Da cidade e do rio, do bairro onde gosto de parar nas janelas a pensar nos aviões que já vi a caírem do céu, dos amigos, da família, do gato emprestadado...Saudades de casa. Daquela que já não é. Mas sempre será.
É ali, já ao fundo da rua, não é?
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i don't belong here
quinta-feira, novembro 13, 2008
domingo, novembro 09, 2008
o amor é tão pequeno que consegue passar pelo fundo de uma agulha
quanto dura um dia quando está escuro? e uma semana?
We die, we die rich with lovers and
tribes, tastes we have swallowed...
...bodies we have entered and swum up
like rivers, fears we have hidden in
like this wretched cave...
...I want all this marked on my body.
We are the real countries, not the
boundaries drawn on maps with the
names of powerful men...
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filmes como livros
sábado, novembro 08, 2008
Lilya Corneli
Ambas como esferas tendo
por vocação o choque a premeditação
que há em ir-se morrer
ambas nos campos sofrendo
a incidência lunar dois
gumes ambas de costas voltando
ao diâmetro de um corpo
de outro
no recuo mais fundo dos címbalos arrebatando
pássaros às árvores
como guindastes os gatos
faliam planos de voo
partiam sozinhos num regresso
essencial
Sobretudo as mulheres ficavam
a habitar a perda
Andreia C. Faria, De haver relento
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no dobrar das folhas,
o outono
Não existe outra vida para além desta. A morte é uma desculpa.E há sempre uma desculpa para o fim. O que vivemos hoje, vivemo-lo aqui e agora. Não há botão de repeat, rewind, fast forward ou afins. Isso são funcionalidades apenas de electrodomésticos - é uma outra espécie de existência, a nossa. O único passado que existe é o que já vivemos. Aquele que trazemos agarrado ao corpo, em ferida, em crosta, ou em pele sarada e nova. O que errámos ontem, hoje ou vamos errar amanhã não pode ser corrigido noutra vida. Não há karmas. É aqui, neste mundo, com esta vida, com este rosto, com estas mãos, com esta voz, com este olhar, com esta forma muito própria de mover o corpo, de entregar os sentidos, de abrir os braços, que nos enrolamos e desenrolamos em novelos de estórias de amor, de amizade, de mágoa e de perda. O que não vivermos agora, ou amanhã, não viveremos, certamente, depois de mortos. Mortos, somos tudo aquilo que fomos e o que deixámos de ser.
Chego à conclusão que acreditar numa outra vida é para gente demasiado pretensiosa. Não é para mim.
Chego à conclusão que acreditar numa outra vida é para gente demasiado pretensiosa. Não é para mim.
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breves anotações sobre a perda
terça-feira, novembro 04, 2008
Nan Goldin
(...)Interesso-me imenso por animais neste momento. Acho que desisti das pessoas, de várias formas. Acho que muitas das minhas paisagens têm a ver com perda e solidão.
Seja como for, na altura, pareceu-me que a forma como as pessoas enterram os seus animais e o amor e total aceitação que tinham para com essas criaturas com as quais viveram tanto tempo é menos ambivalente, talvez, do que o que sentem por outras pessoas. É um amor mais incondicional. Para mim, essa lápide é sobre isso.
Nan Goldin, em entrevista ao Ipsilon, 24 de outubro
(a propósito de uma foto tirada num cemitério de animais em Lisboa. não encontrei a foto. mas tenho na memória a imagem do cemitério.)
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breves anotações sobre a perda
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- a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_
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