"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Poesia Quase Anónima

a poesia na blogosfera portuguesa




Combinando ilustração e poesia, "Poesia Quase Anónima" é uma pequena antologia possível de novos autores dispersos pela blogosfera portuguesa.


*Selecção de textos:
Mercado Negro


*Design e ilustrações:
Menina Limão
meninalimão@gmail.com


Textos de:


*c-asa (carolina rodrigues) em A Casa Imaginada
*a.m. em A Imitação dos Dias
*margarete em Acknowledge (Or Whatever) Thyself
*nocturnidade (cláudia ferreira) em Agulha
*marta em Do Avesso
*martinha. (marta poiares) em Entre Linhas
*r. (rute mota) em Esta Distância Que Nos Une
*eyes shut em Eyes Shut
*gato legível em Gato Legível
*saturnine (raquel costa) em Little Black Spot
*pedro. em Loose Lips Sink Ships
*happy and bleeding em Morrer de Improviso
*mb em Musas Esqueléticas
*aida monteiro em O Perfil das Casas, O Canto das Cigarras
*hugo em Solvstäg
*o peixe que queria ser um tira linhas (rita alberto) em Tampadecaneta
*ana (ana filipa gonçalves) em Tarte de Rabanete
*clAud (cláudia caetano) em Tempo Dual
*lebre do arrozal (maria sousa) em There’s Only 1 Alice
*tratado de botânica (joana serrado) em Tratado de Botânica
*papel químico (sónia oliveira) em Triplicado


Patente na maria vai com as outras de 1 de fevereiro até 1 de março de 2008.


de segunda a sábado: 12h00-20h00/22h30-24h00
domingos e feriados: 15h00-20h00

cig harvey

o instante em que a saudade arde:
a falta dos teus braços no tecido vincado do meu corpo

terça-feira, janeiro 29, 2008

Há muito tempo que não me apaixonava por um livro. Daqueles que ficam na mesa de cabeceira quando nos deitamos e que se levantam connosco para nos acompanharem ao longo do dia. As sombras errantes, de Pascal Quignard, foi uma bela surpresa, daquelas que têm ainda um valor acrescido porque vêm de longe, de quem nos é próximo. E porque me apetece partilhar aqui fica:

**

Há um mundo que pertence à margem do Letes.
Esta margem é a memória.
É o mundo dos romanos e o das sonatas, o do prazer dos corpos nus que amam a persiana meio-fechada, ou o do sonho, que gosta dela ainda mais encostada, até simular a escuridão da noite ou a inventá-la.
É o mundo das pegas sobre as sepulturas.
É o mundo da solidão que a leitura dos livros ou a audição da música requerem.
O mundo do silêncio tépido e da penumbra ociosa onde vagueia e subitamente se excita o pensamento.

**

Onde a carne se levanta ou se abre.
Somos víviparos. Vivemos antes de nascer. Aconteceu que o nosso coração bateu antes de respirarmos. Os nossos ouvidos ouviram antes de os nossos lábios descobrirem a existência do ar. Nadámos na água escura antes de as nossas pálpebras se terem aberto, antes de os nossos olhos se terem ofuscado, depois cegado, depois vissem, antes de a nossa garganta ter secado, depois sufocasse um instante, depois conseguisse comer o ar, depois imitar palavras cuja entoação parecia tranquilizadora.

(...)

domingo, janeiro 27, 2008


uma palavra vazia

leio abro as mãos e escrevo fecho a mão
nenhuma hesitação me empurra para ti
é esta certeza de dedos que desconhecem a distância
e uma espécie de crença inabalável no porvir
Isto não é um acto de contrição. Também não é um elogio barato. É o que é.

Entre isto e isto talvez as semelhanças não sejam pura coincidência. Gosto muito da poesia do Pedro.Leio e releio os seus poemas como se abrisse um livro da minha estante. Esta similitude num ou noutro início de versos, no ritmo... Só porque "plagiar, é implicitamente, admirar" (Júlio Dantas) me perdôo.

sábado, janeiro 26, 2008

que saudades destes três, juntos, ao sol. tardes de inverno ao sol.
acho que estou a precisar de relva nos pés e sol na pele.


ana c.

As fotografias *

*
Era quase no inverno aquele dia
Tempo de grandes passeios
Confusamente agora recordados -
A estrada atravessava a serra pelo meio
Em rugosos muros de pedra e musgo a mão deslizava -
Tempo de retratos tirados
De olhos franzidos sob um sol de frente
Retratos que guardam para sempre
O perfume de pinhal das tardes
E o perfume de lenha e mosto das aldeias

Sophia de Mello Breyner Andresen



Este poema fez-me recuperar o sentido destas fotografias. Uma manta de retalhos de um lugar que já não existe como me ficou na memória.



Terra de gente morta, desaparecida, de quem esqueci o nome, o rosto. Crianças que nunca cresceram. Adultos que nunca partiram.



A placa com o teu nome. O teu pinheiro manso. Sei agora que sobrevive aos dias com a mesma força de outrora. Espreita ainda as fontes, o verde interminável que se funde no azul.


.....

Manta de retalhos para sempre incompleta.

sexta-feira, janeiro 25, 2008


elina brotherus

eu não sabia o que era ter ramos a romper pela carne dos braços
nem vigiava as manhãs com a esperança das aves que antecedem a primavera
eu costumava dormir nas esquinas da cidade sem que me acontecesse qualquer desastre
todos os encontros tinham hora marcada
assinalava cada beijo - hora, local, posição do corpo - no verso das mãos
nenhuma coincidência me fazia tropeçar em ti
de perfil compus o vento redigi a chuva gota a gota o sol esculpido a giz
porque eu não sabia sequer render-me às janelas entreabertas
guardava-me junto ao silêncio exasperado dos muros
e apertava nas mãos as flores para assistir impávida ao murchar dos próprios dedos

um dia soube-te os olhos parados em mim
à volta dos pulsos não era tarde nem cedo
e quis nenhuma coincidência do mundo
que me quisesse também demorar em ti

O verdadeiro poder



New York e Woman left lonely. Apenas dois exemplos em escuta.
Eu costumava gostar de viver nas coisas para sempre. Eu costumava gostar de viver nas coisas para sempre. Até perceber que nunca se vive nas coisas para sempre. Porque a verdade é simples e é esta: isto é o que hoje é. E mais nada. Eu costumava gostar de viver nas coisas para sempre. Porque há coisas que eu gostava mesmo que pudessem permanecer intactas e por tempo indeterminado coladas ao corpo. Há coisas que eu gostava mesmo que não sucumbissem ao seu inelutável fim.
Como daqui a uns tempos, poder ouvir-te de novo dizer: trago borboletas vivas na barriga porque gosto de ti. Porque gosto de ti. Gosto de ti. De ti. Ti.



Ana Luandina


"Assim, a dificuldade já não está em saber como descobrir, inventar, construir, montar (ou até mesmo comprar)uma identidade, mas em saber como impedi-la de se tornar demasiado densa - e de se pegar ao corpo."


A vida fragmentada, Ensaios sobre a moral pós-moderna, Zigmunt Bauman

segunda-feira, janeiro 21, 2008


M.C.Escher

ainda que eu desenhasse, os dias nunca se pareceriam com as noites
nem as árvores tombariam o seu peso sobre o espelho das águas.
em momento algum, saberia distinguir o objecto da sua inanimada sombra.

do lápis apenas conheço o contorno do olhar. ou o que resta de um traço após a insondável beleza da chuva.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Since I fell for You*


umapalavravazia

agora quero entrar dentro de ti
de todas as tuas coisas
o teu riso, as tuas mãos, os teus braços
o teu relógio de peito (tic-tac)
agora, sim, há medo
há esta sensação inevitável de que o mundo
nos foge
de que tudo é areia e escapa
e nós
nós e nós
e esta vontade de nada
nos fazer parar de olhar

*em escuta: nina simone
subo as escadas. desço as escadas. estou sempre à espera que o cão da vizinha do segundo andar rompa a madeira da porta e me faça uma espera do lado de fora. não há vez nenhuma que não se lembre de ladrar à minha passagem. gosto tanto dele quanto ele gosta de mim e dos meu gatos.

segunda-feira, janeiro 14, 2008


Sarah Wilmer

não há qualquer urgência nos corpos
as horas trazem ainda pequenos detalhes da ausência
a janela sobre a cidade, o rio a escorrer por entre margens,
o cimento recortado pelas luzes,
as luzes a anoitecerem-nos por dentro

rasgo as cartas deixadas sobre a mesa
guardo os selos das distâncias

agora, sabes, a única certeza são as borboletas
a levantarem vôo por entre o ondulado dos cabelos

sexta-feira, janeiro 11, 2008

esta noite
o vento voltou a encrespar portas e janelas
depois vieram gaivotas
e pousaram pedaços de mar no tecto das casas
e a cidade tremeu
(e tu tremeste-me nas mãos)
à espera de outra coisa qualquer
semelhante ao primeiro de todos os dilúvios
(ao primeiro de todos os beijos)



daniel blaufuks

Paulo Nozolino


amar te ei
até ao dia seguinte
incondicionalmente

Lena D'Água, A mar te, Ulmeiro

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Só o luto corrompe.
De amoras
maduras não te falo - trago-te
o verão num cesto
de morangos e papoilas, um
candelabro de medronhos
para as pulsões do inverno.
Digo-te:
a morte não nos pertence.

Albano Martins, uma colina para os lábios


quarta-feira, janeiro 09, 2008

You keep your things in a place meant to hide*

Não há dúvidas. Gosto da forma como Gus Van Sant filma. Gosto da sua concepção poética de cinema. Gosto dos actores que escolhe. Caminham sempre sobre a ténue linha entre a coragem e a fragilidade. Gosto das canções que envolve nas imagens. Do jogo entre o dito e o que fica nas entrelinhas.

Mas eis a maior de todas as contradições. Não gosto das conjecturas sociológicas que atravessam os seus filmes. Que se ficasse pela poesia. Apenas. Seria perfeito.



Baseado no romance de Blake Nelson que hei-de fazer por ler.

*Elliot Smith, The white lady loves you more

The last town chorus, modern love (d.bowie cover)

This One's from the Heart

o coração é um órgão monocórdico.


ainda que tu partas
restará sempre o embalo da dúvida.


Nan Goldin

thirtysomething #2

Balanço do dia desde as não sei quantas horas de ontem (ou devo dizer de anteontem?):

De uma forma geral, o meu aniversário não passou despercebido. Claro que ter feito referência a tal acontecimento no meu blogue deve ter funcionado como auxiliar de memória para muita gente, à excepção das minhas duas avós que não têm acesso à net, por isso, estão, obviamente, perdoadas. Também está perdoado o meu irmão que bem tentou organizar-me uma festa surpresa mas...claro que à segunda não resulta! Ainda por cima com amigas como as minhas que não sabem disfarçar nem um bocadinho... Mas foi engraçado, sobretudo, aquela parte das velas, sabem? Sim, é que lembrarem-se que faço anos é uma coisa. Lembrarem-se de quantos anos faço é outra!
No meio de tudo isto, surpreendeu-me o meu Banco que gastou dinheiro numa chamada para o telemóvel só para me felicitar pelo meu aniversário. Apeteceu-me retribuir agradecendo o aumento da prestação...Por este andar, terei muitos anos ainda para festejar pela frente!
Mas de que é que me queixo? Preparava-me para um serão sossegado, de pijama e chinelos, quando fui intimada por certos amigos a sair de casa, entre ironias do tipo: "mas quantos anos fazes? cinquenta?" "ah, afinal és mais nova do que o meu irmão mais velho" ou "a minha mãe é mais velha do que tu"... A verdade é que tenho uns amigos fantásticos. A família, então, nem se fala. E os gatos muito menos.
E o mais engraçado de tudo isto é que sei que há quem pense que, afinal, só faço anos amanhã! MAS A MINHA MÃE DESMENTE!

terça-feira, janeiro 08, 2008

thirtysomething



JÁ TENHO IDADE PARA TER JUÍZO


(agradeço ao simão e à teresa porque não meteram o focinho no bolo.e a todos aqueles que se lembraram. e a todos aqueles que se esqueceram.)

segunda-feira, janeiro 07, 2008

How do we get to those other shores?

To those blue hills.

Love.

Where does it come from?

Who lit this flame in us?


The Thin red line, Terrence Malick

sábado, janeiro 05, 2008

uma espécie de...chá.

- Que chás tem?
- Tília, Camomila, Verde, Menta, Maçã&Canela, Preto, Limão, Cidreira...
- Está bem. Então pode ser uma Superbock!

(Muitos risos.)

antes que o tempo se esgote

desperta-me os braços distantes já de qualquer corpo


Breaking the waves, Emily Watson

eu.tu.ele.nós.vós.eles. blogue.

leio blogues. escrevo blogues. cruzo-me diariamente com bloggers.tu.tu.tu.e tu.já agora, tu também.
falo com bloggers. escrevo-me com bloggers.sento-me à mesa de café com bloggers. vou ao cinema, ao teatro, a concertos...com bloggers. vou dançar com bloggers. beijo bloggers.abraço bloggers.fotografo bloggers. apaixono-me por bloggers. tento esquecer-me de bloggers. guardo mãos quentes e frias de bloggers.

ontem éramos 5 à mesa. todos bloggers, à excepção de um.

qualquer dia já não fará sentido perguntar: com quantas pessoas foste para a cama nos últimos tempos?

qualquer dia pergunta-se: com quantos bloggers foste para a cama nos últimos tempos?

estou farta de blogues. e de bloggers.

mas todas as paixões geram sentimentos contraditórios.

welcome back!

ele vai voltar hoje.
o meu petit prince.
já deixámos de lado algumas máscaras. já nos despimos de alguns silêncios.
saberemos hoje mais do que ontem dar aos dias o sentido da partilha.
e vai ser bom ter com quem dividir os livros, os jantares apressados, as manhãs mal humoradas... a chuva, o nevoeiro da cidade.

prepara-te para uma experiência única. não há nada como ter subido à montanha alta e regressar meses depois ao meu sofá.



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sexta-feira, janeiro 04, 2008

quase acontece acordar*


Jerry Uelsmann


(...)

- Somos reais, vês? - E seguravas-me na mão, sossegando-me, ou pousavas levemente a mão sobre a minha cabeça para eu adormecer.


Manuel António Pina
*verso do título: António Franco Alexandre

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Deixei de fumar em 2007. Nem sequer foi um acto grandemente reflectido e doloroso. Aconteceu. Como aconteceu começar. Mas agora estamos em 2008. É proíbido fumar na maioria dos locais públicos fechados. Ocorre-me que serei uma das excluídas das conversas interessantes que se terão à porta dos cafés e dos bares. Imagino-me sozinha, à mesa, na pista de dança, junto ao balcão... à espera que os meus amigos regressem de outro país.
Será que ainda ninguém percebeu que esta medida não marginaliza os fumadores, mas sim, os não fumadores?

e o mundo inventou o ruído





prefiro pensar que não há pessoas
como as dos filmes do david lynch.


Que sejam os sentimentos a conduzir aos acontecimentos e não o contrário.


Robert Bresson, Notas sobre o cinematógrafo, citado em Elogio do Amor, Jean-Luc Godard

quarta-feira, janeiro 02, 2008

3 * 1

Três constatações à entrada de 2008 e uma espécie de desejo secreto:

1) cada vez mais velha
2) cada vez mais à procura do que procuro
3) cada vez mais empenhada em empenhar-me

*------------

Helena Almeida,2 espaços



(...) É nas linhas das mãos que os deuses escrevem
os mais belos romances. Nas nossas, porém, somente
elaboraram um divertimento, um esboço, um rascunho,
nem sequer literatura.

Maria do Rosário Pedreira

Ontem foi:

About me:

A minha foto
a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

Sopra-me ao ouvido: